Periódicos de Medicina Tropical/Doenças Infecciosas e Parasitárias alinham-se às práticas editoriais da ciência aberta

Por Adeilton Alves Brandão, Benedito Barraviera e Dalmo Correia

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Premida pela necessidade de facilitar o acesso aos artigos publicados e disseminar amplamente os avanços científicos a todos os interessados, a comunidade científica internacional promoveu, a partir da última década do século 20, várias iniciativas que resultaram em mudanças tanto na forma como os periódicos científicos publicam os seus artigos, quanto na estrutura e na organização do meio editorial científico. Estas iniciativas igualmente explicitaram a urgência de se implementar práticas que resultem em mais transparência nos processos editoriais, com impacto direto na denominada “certificação da qualidade dos manuscritos científicos por meio da avaliação por pares.

Estas iniciativas vêm sendo identificadas como o movimento da Ciência Aberta cujo escopo, que já incluía pesquisadores e visionários do meio editorial – como, por exemplo, os pioneiros da publicação em acesso aberto que criaram os periódicos on-line com taxas de publicação ao invés da assinatura por bibliotecas –, ao longo dos últimos 20 anos passou a incluir também as próprias agências de fomento da ciência.

Neste contexto, as agências de fomento agora passam a exigir de todos que recebem seus recursos mais transparência – livre acesso aos artigos publicados, ampla disseminação e compartilhamento dos dados – além de responsabilidade, integridade e alinhamento às boas práticas científicas. Este movimento, que se originou no eixo EUA-Reino Unido, e está praticamente consolidado nos principais países geradores de conhecimento científico, começou, nos últimos anos, a ser assimilado pelas instituições de pesquisa e agências de fomento no Brasil.

Frente a esse cenário de mudanças e desafios para todos os envolvidos na divulgação dos resultados da pesquisa científica, o Programa SciELO, pioneiro do Acesso Aberto à literatura científica no Brasil, não poderia se eximir de suas responsabilidades como organizador, incentivador e apoiador dos periódicos de uma rede de 17 países da América Latina e Caribe, Espanha, Portugal e África do Sul. Dessa forma, o SciELO definiu nas suas linhas prioritárias de ação1, aprovadas por ocasião da celebração dos seus 20 anos de operação, a adoção das boas práticas da ciência aberta para os anos vindouros, estimulando e promovendo o alinhamento de seus periódicos a este movimento para oferecer mais transparência, compartilhamento e franco acesso aos resultados da pesquisa por eles divulgados.

Como primeiro passo, foram estabelecidas algumas medidas iniciais a serem implementadas pelos periódicos, a saber:

  • explicitação na política editorial e nas instruções aos autores a adesão às práticas da ciência aberta em geral;
  • aceitação de manuscritos depositados em servidores de preprints;
  • abertura progressiva do processo de avaliação por pares;
  • abertura e compartilhamento de dados como parte do processo de submissão de artigos;
  • criação de mecanismos post-print nos artigos publicados pelos periódicos.

Estas primeiras medidas deverão compor um plano de alinhamento dos periódicos ao movimento da Ciência Aberta que deverá alcançar os seguintes objetivos:

  1. aumento da transparência nos processos de comunicação;
  2. preservação, replicabilidade e reusabilidade dos dados;
  3. aceleração da comunicação dos resultados das pesquisas;
  4. asseguramento de maior controle da comunicação dos resultados das pesquisas aos autores.

O SciELO deu início à implantação de uma série de projetos-pilotos para o estudo da implementação, iniciando com três dos mais importantes periódicos nas áreas de Medicina Tropical/Doenças Infecciosas e Parasitárias:

  • Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases;
  • Memórias do Instituto Oswaldo Cruz;
  • Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

Os editores-chefes desses periódicos se comprometeram a analisar e implementar as medidas sugeridas, de acordo com um cronograma de ações que deve respeitar os interesses do público-alvo de cada periódico, e, sobretudo, as características operacionais/editoriais/orçamentárias dos mesmos.

O projeto-piloto de implementação das práticas da ciência aberta nos periódicos SciELO também contará com o apoio da Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC).

Nota

1. SciELO – Linhas prioritárias de ação 2019-2023 [online]. SciELO 20 Anos. 2018 [viewed 23 October 2019]. Available from: https://www.scielo20.org/redescielo/wp-content/uploads/sites/2/2018/09/Líneas-prioritaris-de-acción-2019-2023_pt.pdf

Referência

SciELO – Linhas prioritárias de ação 2019-2023. SciELO 20 Anos. 2018 [viewed 23 October 2019]. Available from: https://www.scielo20.org/redescielo/wp-content/uploads/sites/2/2018/09/Líneas-prioritaris-de-acción-2019-2023_pt.pdf

Sobre Adeilton Alves Brandão

Adeilton Brandão tem doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e certificado de educação executiva pela Sauder School of Business, British Columbia University, Vancouver – Canadá. Sua pesquisa enfoca os segmentos não traduzidos de mRNA de protozoários parasitas. Ele é pesquisador do Laboratório de Pesquisa Médica Interdisciplinar do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e editor-chefe da Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, um periódico de micróbios e seus vetores que causam infecções em humanos.

Sobre Benedito Barraviera

Graduado em Medicina pela Unesp, especialista em Medicina Tropical pela FMUSP, Mestre e Doutor pela Unesp. Professor Livre-Docente e Titular de Infectologia na Unesp. É Pesquisador do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Unesp (Cevap), Editor-chefe do The Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases (http://www.jvat.org) e Professor Titular de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Unesp. Tem experiência em Toxinologia, Medicina Tropical, Pesquisa Clínica e Editoração científica. Foi fundador e diretor do Cevap, Pró-Reitor de Extensão Universitária e Presidente da ABEC. A partir de 2005 tornou-se coordenador do Grupo de Pesquisa em Toxinologia certificado pela Unesp e CNPq, além de Presidente da Fundação Lucentis de Apoio à Cultura, Ensino, Pesquisa e Extensão. A partir de 2014 aprovou e tornou-se Vice coordenador do National Institute of Science and Technology of Wildlife Science Center (WSC), INCT, CNPq Proc.No. 465429/2014-9. Atualmente coordena dois ensaios clínicos fase I/II. Em 2019 foi indicado e empossado como Membro Titular da Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil. ORCID: <https://orcid.org/0000-0002-9855-5594>

Sobre Dalmo Correia

Atualmente é professor titular da disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal do Triângulo Mineiro / UFTM. Atua no curso de Pós-Graduação stricto sensu em Medicina Tropical e Infectologia da UFTM, como docente e orientando alunos desde 2000 e tem experiência na área de Medicina Interna, com ênfase em Infectologia (HIV/AIDS e Infecção Hospitalar) e Medicina Tropical, atuando principalmente nos seguintes temas: doença de Chagas, Co-infecção T.cruzi/HIV, Análise da Variabilidade da Frequência Cardíaca na doença de Chagas, Epidemiologia, Clínica, Imunopatogenia e Tratamento das doenças de Chagas e Leishmanioses. Sua experiência na editoração de periódicos científicos inclui a ocupação como Editor Associado da Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical de 2000 a 2011 e como Editor Chefe desde agosto de 2012.

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

BRANDÃO, A.A., BARRAVIERA, B. and CORREIA, D. Periódicos de Medicina Tropical/Doenças Infecciosas e Parasitárias alinham-se às práticas editoriais da ciência aberta [online]. SciELO em Perspectiva, 2019 [viewed ]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2019/10/23/periodicos-de-medicina-tropical-doencas-infecciosas-e-parasitarias-alinham-se-as-praticas-editoriais-da-ciencia-aberta/

 

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