O que é o Plano U: acesso universal à pesquisa científica via preprints?

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Por Ernesto Spinak

O Plano U foi apresentado publicamente em junho por Richard Sever, John Inglis e Michael Eisen em uma comunicação na revista PLOS Biology1. Os dois primeiros são cofundadores do servidor de preprints bioRxiv operados pelo Cold Spring Harbor Laboratory; Eisen é fundador do periódico PLOS Biology e editor-chefe da eLife. Estas são todas iniciativas sem fins lucrativos de publicações de acesso aberto em pesquisa biomédica.

Como muitas outras iniciativas e propostas, o objetivo é criar um mecanismo bem-sucedido e de baixo custo para prover acesso aberto aos resultados da pesquisa. A estratégia do Plano U é separar a disseminação dos manuscritos do processo de avaliação e certificação atualmente usado por periódicos e, assim, acelerar o avanço do conhecimento científico, permitindo que outros pesquisadores possam continuar a trabalhar sobre os resultados publicados em servidores de preprints. O que eles aspiram é que as agências de fomento à pesquisa estabeleçam como requisito obrigatório para a concessão de fundos que os resultados sejam publicados em servidores de preprints. Isso explica o significado do “U” do plano (“universal”).

O artigo fundamenta a proposta com base em seis argumentos principais:

1. Rapidez

A introdução da internet sugeria que a pesquisa pudesse ser disseminada mais rapidamente e sem custos. A realidade é que o sistema de comunicação vigente é lento: o tempo entre a apresentação de um manuscrito até sua publicação on-line leva em média um ano ou mais. Os resultados da pesquisa não são amplamente acessíveis porque grande parte da informação é protegida por barreiras de assinatura com custos não acessíveis à maioria dos países e suas universidades. As iniciativas e esforços para mudar o modelo de negócios permitiram que uma proporção crescente de literatura de pesquisa estivesse livremente acessível, mas os atrasos na publicação em geral estão ficando maiores, e os trabalhos permanecem longos períodos sem ser publicados ou conhecidos.

2. Acesso livre via servidores de preprints

A experiência do arXiv, em operação há 28 anos, com mais de 1,5 milhão de documentos, mostrou que o modelo de preprints é um modelo de sucesso que inspirou várias iniciativas recentes de muitos servidores especializados por disciplinas como bioRxiv, chemRxiv e EarthArxiv, que fornecem acesso universal a documentos antes de serem publicados em periódicos. A divulgação inicial da pesquisa acelerou de tal maneira o ritmo da pesquisa que se estima que o tempo economizado fará com que as descobertas sejam 5 vezes mais rápidas na próxima década. Além disso, como os artigos nos servidores de preprints não são arbitrados, eles podem operar com um custo por artigo muito mais baixo, para que possam ser financiados de forma centralizada e oferecer acesso gratuito a autores e leitores.

3. Preprints obrigatórios

A chave para o sucesso da iniciativa é fazer com que todas as agências de fomento à pesquisa exijam que os manuscritos de suas comunicações sejam publicados primeiro em servidores de preprints – é por isso que é chamado de Plano U (de “universal”). Assim como os matemáticos, físicos e informáticos fizeram com o arXiv por décadas, as ciências biomédicas estão começando a adotar (mais lentamente) preprints com o bioRxiv. No momento, já existem alguns apoiadores, como a Chan Zuckerberg Initiative, que financia o bioRxiv, e o modelo vem crescendo. O sucesso depende de que seja obrigatório para todos os fundos de financiamento.

4. Avaliação por pares

Se o modelo “de facto” para disseminação for em servidores preprints, então o modelo de arbitragem dos artigos será a posteriori. As formas poderão ser variantes dos sistemas atuais (abertos ou não), mas o ponto chave é que a informação estará acessível ao mesmo tempo em que se processa a avaliação por pares. Portanto, o Plano U cria um terreno fértil para um novo ecossistema dinâmico, abrindo oportunidades para a experimentação com revisão por pares, ao invés de prescrever um determinado processo, ponto final ou modelo de negócio.

5. Requisitos dos servidores de preprint

Quando estiver totalmente implementado, o Plano U definiria os requisitos mínimos para servidores de preprints. Isso incluiria a permanência dos depósitos (os artigos não podem ser excluídos, mas podem ser marcados como retirados por um motivo específico), a capacidade de revisar um artigo, metadados facilmente indexáveis e padronizados, links para mecanismos de avaliação e/ou certificação (por exemplo, revistas tradicionais, agências de identificação, etc.) e estratégias de conservação a longo prazo (por exemplo, o CLOKCSS).

6. Relação com outros mandatos de acesso público

O Plano U é um avanço nos objetivos dos esforços dos financiadores para obter acesso livre à pesquisa que patrocinam, como a política de Acesso Público do Escritório de Política de Ciência e Tecnologia (Office of Science and Technology Policy, OSTP) dos Estados Unidos, o mandato dos Institutos Nacionais de Saúde (National Institutes of Health, NIH) e a recente proposta do Plano S.

Se, de acordo com o Plano U, a iniciativa puder ser implementada com uma fração dos custos atuais medidos em bilhões de dólares, então as agências de fomento devem concentrar seus esforços em inovação e nas tarefas de construir sistemas sólidos e eficazes de revisão por pares pós publicação. E então tornar isso obrigatório. Para as agências de pesquisa da América Latina que, através do SciELO, foram pioneiras na adoção do acesso aberto, a adoção do Plano U representa um novo avanço para a comunicação sustentável e rápida da pesquisa e uma oportunidade de inovar nas funções dos periódicos científicos.

Para as agências de pesquisa da América Latina que, através do SciELO, foram pioneiras na adoção do acesso aberto, a adoção do Plano U representa um novo avanço para a comunicação sustentável e rápida da pesquisa e uma oportunidade de inovar nas funções dos periódicos científicos.

Nota

1. SEVER, R., EISEN, M. and INGLIS, J. Plan U: Universal access to scientific and medical research via funder preprint mandates. PLOS Biology [online]. 2019, vol. 17, no.6, e3000273 [viewed 19 June 2019]. DOI: 10.1371/journal.pbio.3000273. Available from: https://journals.plos.org/plosbiology/article?id=10.1371/journal.pbio.3000273

Referencias

GINSPARG, P. It was twenty years ago today… arXiv [online]. 2011 [viewed 19 June 2019]. Available from: https://arxiv.org/abs/1108.2700

Science Initiative Privacy Principles [online]. Chan Zuckerberg Initiative. 2019 [viewed 19 June 2019]. Available from: https://chanzuckerberg.com/privacy/science-privacy-principles/

SEVER, R., EISEN, M. and INGLIS, J. Plan U: Universal access to scientific and medical research via funder preprint mandates. PLOS Biology [online]. 2019, vol. 17, no.6, e3000273 [viewed 19 June 2019]. DOI: 10.1371/journal.pbio.3000273. Available from: https://journals.plos.org/plosbiology/article?id=10.1371/journal.pbio.3000273

Stephen Quake, Stanford – Stanford Medicine Big Data | Precision Health 2017. Stanford Medicine on YouTube. 2017 [viewed 19 June 2019]. Available from: https://youtu.be/zt9hlbet2Lk

Sobre Ernesto Spinak

Colaborador do SciELO, engenheiro de Sistemas e licenciado em Biblioteconomia, com diploma de Estudos Avançados pela Universitat Oberta de Catalunya e Mestre em “Sociedad de la Información” pela Universidad Oberta de Catalunya, Barcelona – Espanha. Atualmente tem uma empresa de consultoria que atende a 14 instituições do governo e universidades do Uruguai com projetos de informação.

Traduzido do original em espanhol por Lilian Nassi-Calò.

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

SPINAK, E. O que é o Plano U: acesso universal à pesquisa científica via preprints? [online]. SciELO em Perspectiva, 2019 [viewed ]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2019/06/19/o-que-e-o-plano-u-acesso-universal-a-pesquisa-cientifica-via-preprints/

 

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