Björn Brembs inicia seu ensaio “Open access and the looming crisis in science” publicado no site The Conversation alertando que “Existe uma iminente crise na ciência, e precisamos agir agora para preveni-la. O autor finaliza destacando o SciELO como solução modelo para o acesso aberto.
O Acesso Aberto às publicações científicas vem se consolidando como um movimento internacional há mais de vinte anos. As duas formas principais de publicação de artigos acadêmicos são denominados a via verde e a via dourada. O primeiro compreende o auto arquivamento dos manuscritos em repositórios institucionais ou temáticos em acesso aberto, e o último inclui tanto os periódicos totalmente em acesso aberto quanto os híbridos.
Um dos fatos que desencadeou o movimento de Acesso Aberto foi a crise das publicações acadêmicas nos anos ’60, quando os publishers aumentaram os preços das assinaturas dos periódicos bem acima da inflação. Isso levou à criação de um sistema de avaliação e classificação de periódicos baseado em citações, para decidir que periódicos uma biblioteca deveria subscrever.
Hoje, o impacto científico medido por indicadores baseados em citações dita as regras na comunicação acadêmica. Todo pesquisador procura publicar em um periódico de alto de impacto de forma a obter reconhecimento de seus pares, conseguir promoções ou estabilidade na carreira e obter subvenções. Os editores respondem a esta demanda mantendo fechado o acesso a seus periódicos mais prestigiosos e aumentando as taxas de rejeição de artigos, que em periódicos mais exclusivos podem alcançar até 90%.
Se este número impressionante estivesse correlacionado à originalidade, qualidade técnica, metodologia consistente e boa reprodutibilidade, estaria justificado. No entanto, foi demonstrado que não há correlação entra os artigos qualificados como inovadores ou relevantes com o impacto dos periódicos onde estão publicados. Além disso, os autores sob pressão para publicar em periódicos de alto impacto se esforçam para encontrar uma maneira de apresentar seus trabalhos como importantes e inovadores. Os publishers, por outro lado, insitem em manter seu modelo de negócio e fazem o que é necessário para sobreviver. De ambos os lados, os interesses da ciência são negligenciados e leitores e bibliotecas ignorados.
Uma das consequências mais nefastas desse círculo vicioso é que o número de artigos retratados vem aumentando constantemente desde 2000. Pesquisadores e publishers devem trabalhar juntos a fim de reverter esta tendência e restaurar a confiabilidade da ciência. A comunicação científica é a etapa mais relevante da pesquisa e, portanto, as medidas devem ser concentradas nesta etapa para prevenir danos futuros. Publishers corporativos internacionais devem ajustar seus modelos de negócios a fim de permitir o livre acesso à ciência pela qual os contribuintes, cientistas ou não, já pagaram.
O acesso aberto considera o conhecimento científico como um bem público e constitui uma solução justa para prestar contas à sociedade da pesquisa com financiamento público. Periódicos em acesso aberto prevalecem em regiões emergentes, particularmente na América Latina, com periódicos de boa qualidade como aqueles publicados pela Rede SciELO.
Iniciativas semelhantes devem ser incentivadas por pesquisadores e apoiadas por agências de fomento, de modo que interesses comerciais não superem os de toda a sociedade.
Referências
BJÖRK, B.C., WELLING, P., LAAKSO, M., MAJLENDER, P., HEDLUND, T., and GUÔNASON, G. Open access to the scientific journal literature: Situation 2009. PLoS ONE, 2010, vol. 5, nº 6. [cited 29 July 2013]. Available from: www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2890572
MIGUEL, S., CHINCHILLA-RODRÍGUEZ, Z., and MOYA-ANEGON, F. Open Access and Scopus: A New Approach to Scientific Visibility From the Standpoint of Access, Journal of the American Society for Information Science and Technology. American Society for Information Science & Techology and Wiley, 2011, p. 1130-1145. [cited 29 July 2013] Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/asi.21532/abstract
Open Access and the looming crisis in science. The Conversation. [viewed 29 July 2013]. Available from: http://theconversation.com/open-access-and-the-looming-crisis-in-science-14950
BREMBS, B., BUTTON, K., and MUNAFÒ, M. Deep impact: unintended consequences of journal rank. Front. Hum. Neurosci., 2013, vol. 7, p. 291. Available from: doi: 10.3389/fnhum.2013.00291
Sobre Lilian Nassi-Calò
Lilian Nassi-Calò é química pelo Instituto de Química da USP e doutora em Bioquímica pela mesma instituição, a seguir foi bolsista da Fundação Alexander von Humboldt em Wuerzburg, Alemanha. Após concluir seus estudos, foi docente e pesquisadora no IQ-USP. Trabalhou na iniciativa privada como química industrial e atualmente é Coordenadora de Comunicação Científica na BIREME/OPAS/OMS e colaboradora do SciELO.
Tradução do original em inglês por Lilian Nassi-Calò.
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários