In memoriam: Dr. Jürgen Döbereiner – 1923-2018

Por Daniel Guimarães Ubiali

Foto: Jeann Leal

Jürgen Döbereiner nasceu em 1 de novembro de 1923, na cidade de Königsberg, na Prússia Oriental, Alemanha (hoje com nome de Kalliningrad, sob domínio russo). Jürgen estudou de 1947 a 1950 Medicina Veterinária na Universidade de München, Alemanha, após ter servido como tenente na Segunda Guerra Mundial.

Em março de 1950, ainda como estudante, casou-se com a recém-formada Engenheira Agrônoma Johanna, originária da Checoslováquia. O casal decidiu viajar para tentar uma nova vida pós-guerra no Brasil. Em 1951, Jürgen foi transferido da Universidade de München para a Universidade Rural do Brasil no Km 47 da antiga Estrada Rio-São Paulo. Döbereiner formou-se em 1954 pela Escola Nacional de Veterinária (hoje, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ). O casal Jürgen e Johanna se dedicaram por toda a vida para a pesquisa científica nas áreas de Patologia Veterinária e Fixação Biológica de Nitrogênio, respectivamente.

A partir de 1955, Jürgen exerceu sua profissão como Médico Veterinário e pesquisador no Ministério de Agricultura, na Seção de Anatomia Patológica do Instituto de Biologia Animal (IBA), no Km 47, Seropédica/RJ, infelizmente extinto no início da década de 1980 e que hoje pertence à UFRRJ.

De 1961 a 1963, cursou o mestrado na Universidade de Wisconsin em Madison, Estados Unidos, como bolsista da Fundação Rockfeller, e obteve o título de Master of Science, com a defesa de dissertação relacionada à intoxicação de bovinos pela planta samambaia, Pteridium aquilinum (=Arachnoideum).

Após o regresso dos EUA, fez concurso na Universidade Rural, mas não tomou posse por considerar as condições de pesquisa melhores no IBA, o antigo laboratório de referência em sanidade animal do Brasil.

Em 1970/71, realizou pelo Queen’s Scholarship estudos no Royal Veterinary College em Londres sobre a intoxicação por Solanum malacoxylon (=glaucophyllum), cuja doença é popularmente conhecida sob o nome de “espichamento” e ocorre em bovinos no Pantanal do Brasil.

De 1976 a 2010, tornou-se pesquisador da recém-criada Embrapa. Em 1977 foi contemplado com o título de Doctor honoris causa pela Justus-Liebig-Universität Giessen, Alemanha, por ocasião da comemoração de 200 anos da Faculdade de Medicina Veterinária, em face dos trabalhos de pesquisa realizados no Brasil.

Lecionou nos cursos de pós-graduação de Mestrado e Doutorado da UFRRJ e Universidade de São PauLO (USP). Desde o início do exercício de sua profissão, dedicou-se a pesquisas das doenças de bovinos causadas por plantas tóxicas e por deficiências minerais, em estreita colaboração com o prof. Carlos Hubinger Tokarnia (Universidade Federal Fluminense, UFF, e UFRRJ).

Em 1978 colaborou com Tokarnia no diagnóstico de surto de peste suína africana que ocorreu no município de Paracambi/RJ, próximo ao IBA, o que resultou na rápida extinção deste foco no Brasil.

Desde 1969 dedicou-se ao esclarecimento da etiologia da doença conhecida popularmente como “cara inchada dos bovinos”. Com financiamento do CNPq e do Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (DAAD) realizou em 1984 e 1989 estudos sobre esta periodontite dos ruminantes nas Universidades de Giessen e Berlin.

Após o primeiro diagnóstico de botulismo em bovinos no agreste, do Piauí por Carlos Tokarnia; Dr. Jürgen realizou pesquisas com a colaboração de Iveraldo dos Santos Dutra, nas décadas de 1970/80 sobre inúmeros surtos de botulismo epizoótico desencadeados pela osteofagia em áreas de deficiência de fósforo, o que resultou no esclarecimento da etiologia da “doença misteriosa” que causou a perda de milhões de bovinos no Brasil.

Desde estudante e nos muitos anos de pesquisa, foi bolsista do CNPq publicou 174 artigos em periódicos científicos nacionais e internacionais indexados e orientou várias teses de pós-graduação.

É coautor das duas edições dos livros Plantas Tóxicas da Amazônia a Bovinos e outros Herbívoros (1979/2007) e Plantas Tóxicas do Brasil para Animais de Produção (2000/2012); também é coautor do livro Deficiências Minerais em Animais de Produção (2010), com as publicações lideradas por Carlos Tokarnia.

De 1959 a 1961 foi responsável pela publicação dos Arquivos do Instituto de Biologia Animal a convite do diretor do IBA. De 1966 a 1976, foi editor-chefe da revista Pesquisa Agropecuária Brasileira, a convite do diretor-geral do Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação Agropecuária (DNPEA), revista que hoje está sendo publicada pela Embrapa.

De 2000 a 2004, foi presidente da Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC).

Em 1978 fundou o Colégio Brasileiro de Patologia Animal (CBPA) com objetivo da edição de um periódico científico de medicina veterinária de âmbito nacional. Em 1981 foi publicado o primeiro fascículo da revista Pesquisa Veterinária Brasileira (www.pvb.com.br, http://www.scielo.br/pvb). Este periódico científico foi criado para apresentar à comunidade, principalmente veterinários de campo e professores os principais problemas de saúde em Animais de Produção/Livestock Diseases no Brasil, ou seja, patologia em seu sentido amplo, envolvendo as áreas de epidemiologia, clínica e diagnóstico laboratorial. A partir de 2007 a revista passou a ter periodicidade mensal, ampliou a sua abrangência ao publicar artigos das áreas de Pequenos Animais/Small Animal Diseases, Animais Selvagens/Wildlife Medicine e Morfofisiologia/Animal Morphophysiology. A Pesq. Vet. Bras. foi classificada pela CAPES como Qualis A2. A partir de 2019 todos os artigos serão publicados em inglês e com um resumo em português. Recentemente foi incorporado o serviço de edição de imagens como exemplo de importantes periódicos científicos internacionais da área de Patologia Veterinária.

Após 55 anos de serviço, em 2010, se aposentou, com 86 anos de idade, mas continuou atuando, desde 1981, como editor geral da revista Pesq. Vet. Bras. até o último dia de sua vida. Ele deixou um documento intitulado Carta de Porangaba, em homenagem ao seu sítio, onde ele escreveu junto com colaboradores uma sugestão para o aperfeiçoamento dos serviços veterinários no Brasil. Jürgen gostava de contar sobre suas aventuras durante viagens a campo, portanto realizou-se filmagens de grande parte dessas histórias, as quais serão editadas para a preparação de um documentário intitulado por Jürgen como Histórias de Pesquisa em Saúde Animal no Brasil. Dr. Jürgen Döbereiner, com 94 anos, faleceu em casa no dia 16 de outubro de 2018.

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

UBIALI, D.G. In memoriam: Dr. Jürgen Döbereiner – 1923-2018 [online]. SciELO em Perspectiva, 2018 [viewed ]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2018/11/14/in-memoriam-dr-jurgen-dobereiner-1923-2018/

 

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