Competitividade e Acesso Aberto de periódicos em um país de língua não inglesa

Por Ritsuko Nakajima

Visão geral de periódicos acadêmicos publicados no Japão

No Japão, os periódicos acadêmicos são publicados principalmente por sociedades acadêmicas, apresentando uma imagem totalmente diferente daquela do ocidente, onde muitos periódicos são publicados por publishers comerciais. O número de associações acadêmicas é superior a 2.000, contando apenas as que se registraram como órgão cooperativo pelo Conselho Científico do Japão e possuem várias entidades, como grandes sociedades com dezenas de milhares de membros, sociedades históricas fundadas no século XIX, sociedades jovens e novas, etc. Especialmente, as sociedades de pequeno e médio porte são em grande número e muitas vezes não são beneficiadas com a base financeira e os recursos humanos necessários para a publicação de periódicos.

O J-STAGE (Japan Science and Technology Information Aggregator, Electronic) – um serviço operado pela Japan Science and Technology Agency (JST), uma agência nacional – fornece às diversas sociedades acadêmicas funções de publicação de periódicos. Nos anos 90, a digitalização de periódicos progrediu rapidamente no mundo, mas começou um pouco mais tarde para os periódicos japoneses e o J-STAGE foi lançado em 1999. Inicialmente, começou com cerca de 30 periódicos e agora cresceu para 2.700. Destes, cerca de 1.500 periódicos são atualizados regularmente, cerca de 270 são publicados em inglês e os demais, mais de 1.200, são periódicos publicados em japonês ou japonês/inglês. As atividades de pesquisa parecem ser vivas e animadas, mas envolvem muitos desafios.

Embora os periódicos publicados por sociedades acadêmicas japonesas tenham se esforçado para mostrar competitividade internacional desde antes dos anos 90, eles não alcançaram um enorme sucesso comparado à presença que mostrou a pesquisa científica japonesa. Grande parte da excelente produção de pesquisa do Japão é submetida a periódicos publicados em países de língua inglesa. Foi ainda indicado que 80% dos trabalhos de pesquisadores japoneses foram publicados em periódicos estrangeiros. Consequentemente, muitos periódicos japoneses estão procurando se tornar periódicos da segunda e subsequentes escolhas como destino de submissão de artigos ou um tipo diferente de periódico, ao invés de publicar pesquisas internacionais e de ponta, pois não têm consciência de internacionalidade. Por exemplo, periódicos em campos estreitamente relacionados à indústria doméstica, onde os pesquisadores não usam o inglês regularmente, em áreas onde o Japão tem a superioridade acadêmica, como estudos japoneses, ou periódicos voltados para a educação de estudantes que escrevem trabalhos pela primeira vez. Acredita-se que o fato de muitos periódicos serem publicados e as pesquisas realizadas com eles contribuam para o aprimoramento da pesquisa científica japonesa. No entanto, também foi apontado que periódicos subdivididos de pequeno porte têm desvantagens e deveriam formar uma coalizão ou integrar-se para tirar vantagem da escala. Por outro lado, muitos dos periódicos publicados por sociedades acadêmicas com o objetivo de atingir competitividade global são hospedados por publishers internacionais. A fim de responder a uma situação tão difícil, a futura direção do J-STAGE tem sido discutida nos últimos anos.

Respostas dos publishers ao movimento de acesso aberto – O caso de alguns periódicos no J-STAGE

Quanto ao modelo de gestão de um número tão grande de periódicos diversos, na maioria dos casos, a maior parte da receita deve-se à taxa de filiação paga pelos membros da sociedade e o custo da publicação de periódicos depende da taxa de submissão e da assinatura, além da taxa de filiação. Os periódicos em mídia impressa geralmente eram distribuídos apenas para membros que pagam taxas de filiação, mas quando começaram a publicar versões eletrônicas em paralelo com a impressa, muitas vezes a versão eletrônica era disponibilizada gratuitamente apenas para melhorar a visibilidade, com a intenção de fazer com que o periódico fosse mais lido. Atualmente, mais de 80% dos periódicos no J-STAGE são de acesso livre. Devemos nos orgulhar de uma taxa tão alta de “Acesso Aberto”, porque eles preenchem o requisito básico de acesso aberto que é a disponibilidade on-line gratuita e irrestrita. No entanto, apenas um pequeno número de periódicos afirma ser acesso aberto, portanto, poucos periódicos especificam licenças de AA. Embora um periódico de acesso livre que não especifique uma licença aberta seja algumas vezes chamado de AA bronze, se um periódico japonês for livremente acessível sem especificar uma licença aberta, presumivelmente, o publisher não o considera como um periódico AA.

Dito isso, alguns periódicos estão pensando seriamente em se tornar AA. Enquanto trabalhávamos com as sociedades, surgiram várias barreiras para se tornar um periódico AA, como as que são descritas a seguir. No início, havia uma ideia de que seria relativamente fácil tornar-se um periódico AA se fosse um periódico gratuito e só seria alcançado com o esclarecimento de regras e a preparação de documentos para autores/leitores para tornar o processo de gestão transparente. Mas isso não era verdade. Considerando o princípio do AA, pensamos que era possível separar a acessibilidade aberta e o modelo de negócios dos periódicos. No entanto, na verdade, as pessoas consideram que um periódico AA é acompanhado pelo sistema de taxa de processamento de artigos (Article Processing Charge, APC), que expressa a estabilidade financeira e, eventualmente, leva à confiabilidade e sustentabilidade do periódico. Nesse contexto, entendemos que considerar o modelo de negócios, incluindo o sistema APC, é indispensável ao considerar a possibilidade de se tornar um periódico de AA. Então, se a situação financeira piorar, você pode esperar que a APC estabilize sua operação, mas há também o risco de reduzir os incentivos para enviar artigos. Ao considerar se tornar um periódico AA, há casos em que a disponibilidade de introdução da APC é o ponto.

Enquanto isso, para sociedades acadêmicas que não têm problemas financeiros iminentes devido a fontes de renda que não sejam taxas de filiação, é necessário apenas continuar o modelo de negócios existente, por enquanto. Não há motivação para introduzir a APC. De fato, há opiniões de que os membros perderiam seu mérito. A especificação da licença de AA também é recomendada do ponto de vista da promoção da reutilização de resultados de pesquisa, no entanto, esta condição desestimula certos periódicos devido a preocupações com o uso indevido da produção da pesquisa ou a perda de receita decorrente de direitos autorais. Finalmente, há opiniões de que ser chamado de periódico AA em si não é preferível; os periódicos de AA ganharam má reputação entre os pesquisadores em certos campos, então os periódicos que operam no sistema de revisão por pares a sério por muito tempo querem evitar serem vistos como periódicos AA que conduzem revisão por pares “light“, ou até mesmo como periódicos predatórios. Embora o DOAJ liste periódicos de AA confiáveis, essa lista ainda não é um indicador amplamente difundido entre os pesquisadores em comparação com outros indicadores baseados em contagens de citações como o Fator de Impacto (Journal Impact Factor, JIF). Parece que é necessário promover mais discussão dentro da sociedade acadêmica antes da transição para o AA.

No entanto, mesmo nessas circunstâncias, há periódicos que já foram transferidos para AA, embora o número não seja tão grande. Nesses casos, parece haver muitas vezes um pesquisador no conselho que tinha conhecimento e perspectivas sobre o AA e que funcionou como líder. Além disso, quando a forma original de operação era próxima de um periódico AA, por exemplo, suas taxas de submissão eram comparativamente altas e poderiam ser simplesmente convertidas para APC, ou AA era comum no campo do periódico, então não havia desconforto para os pesquisadores, então a transição para AA não deve ter sido uma grande mudança. Enquanto isso, existem sociedades que preveem que os periódicos de AA serão dominantes no futuro e estão se preparando para publicar um novo periódico de AA separadamente de seus principais periódicos existentes.

Descrevi as respostas das sociedades acadêmicas cujos periódicos são publicados no J-STAGE com base em nossa experiência obtida através de conversas com as sociedades. Temos a impressão de que a situação ainda é prematura e as sociedades estão em um estado de “esperar para ver”. Considerando o fato de que muitos dos periódicos internacionalmente competitivos ainda permanecem como periódicos por assinatura, os periódicos acadêmicos japoneses vão levar tempo para aprofundar o entendimento e a discussão sobre a gestão futura. É improvável que as transições para o AA ocorram rapidamente. A discussão deve ser levada adiante, considerando a manutenção de méritos para os membros acadêmicos, aumentando o valor para atrair artigos de alta qualidade do exterior (alta qualidade do periódico, bem como atender aos padrões internacionais) e mantendo a capacidade de gestão sustentável em termos de finanças e qualidade. A fim de promover as discussões necessárias nas sociedades acadêmicas para considerar a transição ao AA, é necessário prover informação sobre a situação mundial da publicação acadêmica.

Referências

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NEGISHI, M. A Quantitative Analysis on “Overseas Drain Ratios” of Japanese Papers and the “Internationalization” of Academic Societies: Their Implications and the Rate of Self-Sufficiency in Scientific Research. Joho Chishiki Gakkaishi [online]. 2011, vol. 21, no. 2, pp. 197–204, ISSN: 0917-1436 [viewed 31 August 2018]. DOI: 10.2964/jsik.21_12. Available from: https://www.jstage.jst.go.jp/article/jsik/21/2/21_21_12/_article/-char/ja/

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Link externo

J-STAGE <https://www.jstage.jst.go.jp/browse/-char/en/>

 

Sobre Ritsuko Nakajima

Ritsuko Nakajima é Gerente de Informação de Recursos Humanos no Departamento de Bases de Dados para a Infraestrutura de Informação e Conhecimento da Agência de Ciência e Tecnologia do Japão (Japan Science and Technology Agency, JST), onde ela é responsável pelo serviço japonês de base de dados de pesquisadores, bem como pelo serviço de informação de trabalho para pesquisadores JREC-IN Porta. Ela esteve envolvida em vários projetos relacionados a serviços de informação, incluindo o J-STAGE, agregador de periódicos japoneses, e o Japan Link Center, agência de registro do DOI. Ritsuko também gerencia a promoção do acesso aberto para artigos como resultado de pesquisa derivada de pesquisas financiadas pela JST.

 

Traduzido do original em inglês por Lilian Nassi-Calò.

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

NAKAJIMA, R. Competitividade e Acesso Aberto de periódicos em um país de língua não inglesa [online]. SciELO em Perspectiva, 2018 [viewed ]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2018/09/04/competitividade-e-acesso-aberto-de-periodicos-em-um-pais-de-lingua-nao-inglesa/

 

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