Por Roger C. Schonfeld
O ano passado foi um período importante para o acesso aberto impulsionado por preprints. A Elsevier realizou duas grandes aquisições, a SSRN com suas redes de pesquisas editadas e bepress com seu serviço de repositório institucional da Digital Commons. A empresa irmã da Springer Nature, a Digital Science, também trabalhou para desenvolver sua presença, expandindo o figshare não apenas como um repositório de dados, mas como uma solução institucional completa e, mais recentemente, melhorando seu suporte para preprints. À medida que os fornecedores comerciais compram e constroem o caminho em direção ao repositório institucional e o mercado de preprints, o Center for Open Science (COS), entidade sem fins lucrativos, está oferecendo uma alternativa, expandindo o que chamam de serviços de preprints impulsionados através de sua plataforma. Em 29 de agosto de 2017, o COS anunciou1 a disponibilidade de seis novos serviços, incluindo um repositório nacional para a Indonésia e uma variedade de novos serviços multidisciplinares. Embora atualmente relativamente pequeno em escala, o COS está construindo uma plataforma para a comunidade de pesquisa que é controlada por uma entidade sem fins lucrativos e, portanto, apresenta uma alternativa interessante e potencialmente poderosa.
COS
O Center for Open Science (COS) se caracteriza como “uma start-up de tecnologia sem fins lucrativos fundada em 2013 com a missão de aumentar a abertura, a integridade e a reprodutibilidade da pesquisa científica”. O conselho é composto por cientistas e cientistas sociais de diversas e interessantes afiliações institucionais, mais notavelmente talvez, a National Academy of Science. Seu plano estratégico está disponível2 para que todos possam revisá-lo.
Trata-se de um plano notadamente transparente em relação a finanças e patrocinadores. Seu maior patrocinador todos os anos foi a Fundação Laura e John Arnold, mas também recebeu financiamento da Sloan, Templeton, IMLS, NSF, NIH, Hewlett, DARPA e outros.
Falei recentemente com Brian Nosek, Diretor Executivo do COS, sobre suas mais recentes comunidades de preprints e sua direção em geral. O COS está construindo uma plataforma na qual qualquer cientista pode realizar pesquisas de forma mais aberta que poderia ser o caso. Sua plataforma permite que os pesquisadores usem os serviços que já selecionaram (como figshare, Mendeley e Dropbox), mas de uma forma que impulsiona maior interoperabilidade ao longo do ciclo de vida da pesquisa. Também está seletivamente criando serviços próprios. Como os preprints estão bem estabelecidos em algumas áreas, mas mal utilizadas em outras, segundo Nosek, faz sentido para o COS gerar o desenvolvimento de infraestrutura que irá acelerar maior compartilhamento.
Comunidades de Preprint
O COS adota a abordagem de disponibilizar sua plataforma para outras comunidades agregarem contribuições. Em sua maior parte, em vez de solicitar a comunidades específicas que adotem sua plataforma, o COS a está disponibilizando para uma variedade de comunidades que podem ter interesse em recebê-la, como sociedades acadêmicas, agências de fomento à pesquisa e iniciativas de base. Nosek aponta para esta evidência de “demanda reprimida” em comunidades tão diversas quanto as da ciência da informação e biblioteconomia, das práticas da mente e contemplativas, das ciências nutricionais e da pesquisa relacionada com o esporte e o exercício. O COS fornece a infraestrutura e cada comunidade é responsável por solicitar contribuições e atrair os pesquisadores para usar o serviço.
De muitas maneiras, esta abordagem de adicionar comunidades é bastante semelhante à abordagem adotada pela SSRN da Elsevier. Suas redes de pesquisa, dirigidas por um ou mais pesquisadores seniores na área, fornecem um espaço comunitário para uma determinada disciplina ou campo. A área de química ganhou uma pequena manchete3 neste verão no hemisfério norte: ao mesmo tempo em que o serviço de preprints ChemRxiv da American Chemical Society estava sendo lançado através da plataforma figshare Digital Science, a SSRN anunciou4 uma nova rede de pesquisa para a área de química. Enquanto estas comunidades de preprints encontram plataformas para abrigar seus artigos, parece também não haver falta de competição de plataformas para trabalhos de pesquisa.
Provedores de Preprint
Os preprints são encontrados em vários diferentes serviços de repositórios, organizados tanto por meio de comunidades disciplinares como institucionais. Além do COS, existem diversos prestadores de serviços notáveis: a Universidade Cornell, a Digital Science, o DuraSpace, sem fins lucrativos, e a Elsevier. As comparações são complicadas, mas vale à pena examinar a escala e a velocidade.
Existem várias definições específicas diferentes para o termo “preprint“, bem como algumas questões interessantes a respeito de o termo ter se tornado ineficaz. Mas vários provedores são capazes de estimar o número de preprints ou artigos de pesquisa que eles disponibilizam através de serviços de repositório:
Provedor | Número de artigos de pesquisa |
COS | 3.794 |
Elsevier (inclui bepress e SSRN) | 3.050.000 |
DuraSpace | Não disponível |
Cornell University (inclui arXiv) | 1.297.000 |
Digital Science (por meio de figshare, inclui ChemRxiv, repositórios institucionais, etc. | Não disponível |
Este conjunto de medidas mostra que alguns provedores estão mais bem estabelecidos que outros. O tamanho do corpus em termos absolutos é importante para disponibilidade de conteúdo e capacidade de recuperação, e como discutirei abaixo, as novas abordagens que o COS e a Elsevier estão buscando.
Mas as medidas absolutas também podem ser enganosas, uma vez que mascaram taxas de crescimento (ou contração). Hoje e ao longo do ano passado, vimos o COS e a SSRN adicionarem novas comunidades, que impulsionam o crescimento, juntamente com várias mudanças na propriedade da plataforma. Como resultado, devemos esperar continuar a ver acadêmicos, financiadores e bibliotecas mudarem suas plataformas preferenciais de depósito ou os parceiros de suas plataformas.
Portanto, a velocidade pode ser uma métrica igualmente relevante, e não apenas números absolutos. Até 29 de agosto de 2017, a velocidade do COS, medida em artigos de pesquisa depositados ao mês, era de aproximadamente 500. Nos últimos 22 meses, o arXiv da Cornell cresceu em média cerca de 6.300 depósitos ao mês. Desde que foi adquirida pela Elsevier, a SSRN adicionou uma média de 12.000 artigos ao mês.
É difícil saber, mesmo a partir dessas métricas, qual plataforma está ganhando e qual está perdendo força, mas é claro que o COS teria seu trabalho interrompido se estivesse interessado em competir por números (o que, Nosek enfatiza, não é como o COS define seu sucesso). As plataformas chegam ao conhecimento dos acadêmicos para depositar artigos de pesquisa por meio de afiliações institucionais ou estruturas disciplinares – ou, como o ResearchGate e a Academia mostraram, por meio de redes de pares. O marketing para acadêmicos, direta ou indiretamente, é fundamental.
O interesse do COS em preprints faz parte de uma visão maior sobre “perturbar a publicação acadêmica”. Novos recursos para comentários, moderação e revisão por pares permitirão em breve que vários tipos de periódicos sejam geridos nesta infraestrutura. Estes são objetivos ambiciosos e animadores, se puderem ser realizados, uma vez que abrirão a possibilidade de novos tipos de periódicos conectados mais diretamente através do ciclo de vida com seus preprints subjacentes. Sem o ônus do negócio de um periódico estabelecido, o COS pode encontrar uma oportunidade de ser mais perturbador que apenas em preprints. Por outro lado, existe o risco que o fato de entrar no mercado de periódicos possa afastar o COS de construir um suporte integral para o fluxo de trabalho da pesquisa.
O foco no fluxo de trabalho
É impossível entender a visão do COS sem abordar o que eu chamo de foco no fluxo de trabalho. Num ponto de vista emergente, que considero extremamente importante, o repositório não é um serviço ou uma plataforma própria, mas sim uma estação no fluxo de trabalho do pesquisador. Todos os cientistas e muitos outros tipos de acadêmicos têm um fluxo de trabalho do pesquisador, as etapas da definição do projeto e do financiamento por meio da pesquisa e análise para publicação e disseminação. A Elsevier e o COS são duas organizações que apostam alto, não apenas em serviços de pesquisa individuais, mas também fornecem um fluxo de trabalho integrado: a Elsevier, por meio de aquisições de grande sucesso que realmente começaram com a aquisição da Mendeley, e o COS, através do desenvolvimento de seu Open Science Framework (OSF).
Suas visões são diferentes. A Elsevier está buscando uma estratégia que envolve integrar cada vez mais os serviços de seu fluxo de trabalho do pesquisador, oferecendo de forma crescente a possibilidade de uma experiência perfeita ao pesquisador. Ela planeja monetizar serviços, em parte por meio da coleta e agregação de dados tornando seus produtos analíticos e de suporte à decisão mais poderosospossíveis. Embora seja rápido dizer que os produtos individuais não envolvem o bloqueio do usuário, a Elsevier está explorando uma variedade de oportunidades para aumentar a “adesividade” dos usuários aos seus serviços e agregar seus produtos.
O COS tem uma visão muito diferente. Como Nosek coloca, os “serviços controlados pela comunidade são o nosso objetivo a longo prazo… Percebemos nosso papel na fase de criação da infraestrutura de bens públicos”. O primeiro passo é fornecer “serviços que os pesquisadores sabem que precisam agora, como um gancho” para obtê-los usando a plataforma. Assim, isso inclui a crescente interoperabilidade com outros provedores de fluxo de trabalho, como o Mendeley Data da Elsevier como um repositório de conjunto de dados e tornando os preprints SSRN e Digital Commons detectáveis via SHARE. Pode-se, então, adicionar importantes serviços intersticiais e adicionar componentes necessários que melhorem a integridade científica. Portanto, o COS oferece uma alternativa a um fluxo de trabalho de pesquisa comercial em um sentido, enquanto procura maneiras de integrar algumas dessas ofertas-chave. É por esta razão que o COS fala sobre fornecer uma estrutura para serviços, mais que insiste em se tornar um provedor de serviços em si. Suas comunidades de preprints se encaixam nesta abordagem mais ampla.
Perspectivas
Uma prioridade fundamental para o COS é estabelecer sua sustentabilidade. Falta acesso ao nível de capital que a Elsevier e outros provedores alternativos podem suportar (segundo o qual, pagando £150 milhões para a empresa-mãe Digital Commons). Ao longo do tempo, o COS criará um modelo de financiamento recorrente, possivelmente nas linhas do arXiv da Cornell. Embora alguns fluxos de financiamento possam inibir o uso, outros podem ser positivos tanto para clientes quanto para provedores, se eles construírem links mais próximos com os “clientes”. A comercialização de sustentabilidade, mesmo sob um modelo aberto, em última análise, pode prover disciplina e foco.
Entretanto, o COS vê crescente interesse pelo uso de sua plataforma em diversas comunidades. À medida que os acadêmicos trazem seus preprints para estas comunidades, eles terão a oportunidade de experimentar ofertas mais amplas de fluxo de trabalho do pesquisador do COS. Alguns permanecerão por meio do ciclo de vida completo da pesquisa. É perfeitamente possível que, especialmente se o COS puder garantir parcerias com um maior número de sociedades acadêmicas, sua plataforma poderá crescer substancialmente. E, não devemos descartar o desgaste de algumas das alternativas, já que o mercado se reabastece.
Um interesse persistente parece ser a conexão das prioridades institucionais, como a conformidade e a disseminação, com as comunidades disciplinares por meio das quais os acadêmicos tendem a organizar suas pesquisas. Se o COS, como o figshare, continuar a evoluir para oferecer plataformas institucionais e disciplinares em suas coleções de preprints e dados mais amplos, ele pode ter uma forte vantagem. A Elsevier precisará integrar o Digital Commons e a SSRN para conseguir uma oferta similar, embora comece com uma base de conteúdo muito maior que os concorrentes.
Em última análise, está emergindo uma questão-chave para as instituições de ensino superior: em que medida e em que condições faz sentido terceirizar a infraestrutura acadêmica básica? O Center for Open Science está fornecendo o que Nosek chama de “estratégia pragmática” para oferecer uma visão de alguma coisa além da terceirização completa para provedores comerciais.
Notas
1. Six New Preprint Services Join a Growing Community Across Disciplines to Accelerate Scholarly Communication [online]. Center for Open Science (COS). 2017 [viewed 29 August 2017]. Available from: https://cos.io/about/news/six-new-preprint-services-join-growing-community-across-disciplines-accelerate-scholarly-communication/
2. COS Center for Open Science: Strategic Plan 2017 – 2020 [online]. Center for Open Science (COS). 2017 [viewed 29 August 2017]. Available from: https://docs.google.com/document/d/1sqz3appQ73vqa6fP1Gy8KK8HZpotoSGaiJC1XQuvREI/edit
3. HYNDMAN, A. Figshare to power ChemRxiv™ Beta, New Chemistry Preprint Server For The Global Chemistry Community [online]. FigShare. 2017 [viewed 29 August 2017]. Available from: https://figshare.com/blog/Figshare_to_power_ChemRxiv_Beta_New_Chemistry_Preprint_Server_For _The_Global_Chemistry_Community/322
4. SSRN launches ChemRN – a new network dedicated to chemistry [online]. Elsevier. 2017 [viewed 29 August 2017]. Available from: https://www.elsevier.com/about/press-releases/science-and-technology/ssrn-launches-chemrn-a-new-network-dedicated-to-chemistry
Referências
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Links externos
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Roger C. Schonfeld – <http://www.sr.ithaka.org/people/roger-c-schonfeld/>
Artigo original em inglês
Traduzido do original em inglês por Lilian Nassi-Calò.
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