17 de Agosto de 2015
A América Latina é uma das regiões mais progressistas do mundo em termos de acesso aberto e da adoção de modelos sustentáveis de cooperação para a disseminação da pesquisa; modelos que garantem que os pesquisadores e os cidadãos tenham acesso aos resultados da pesquisa realizada na região.
O SciELO é uma notável plataforma de publicação descentralizada que abriga mais de 1.200 periódicos revisados por pares de quinze países localizados em quatro continentes – América do Sul, América Central e do Norte, Europa e África. Redalyc, sediado no México, é outro sistema que hospeda quase 1.000 periódicos de quatorze países Latino-Americanos, além de Espanha e Portugal. Governos ao redor do mundo gastam bilhões de dólares em infraestrutura para apoiar a excelência em pesquisa; plataformas como SciELO e Redalyc são extensões destes investimentos maiores em pesquisa. Eles refletem uma compreensão progressista na América Latina de que a ampla difusão e o acesso aos resultados de pesquisa são tão importantes quanto a própria pesquisa. O resto do mundo faria bem em observar.
Em um post recente1, estas duas iniciativas foram desacreditadas por Jeffrey Beall. Em seu post, Beall comparou as duas plataformas de publicação a favelas, resultando em um insulto mesquinho para ambos os moradores das favelas, por um lado, e SciELO e Redalyc, por outro. Em vez de difamar estas iniciativas, elas deveriam ser apontadas como exemplos de boas práticas para o resto do mundo.
Além disso, só porque alguns na América do Norte não estão a par sobre SciELO e Redalyc não os torna irrelevantes. Esta é uma visão extremamente elitista e estreita do mundo. Embora essas plataformas podem não ser bem conhecidas em alguns lugares, SciELO e Redalyc de fato aumentam a visibilidade e acessibilidade dos periódicos que hospedam, especialmente em suas comunidades locais. Se estes periódicos fossem publicados pelos grandes publishers comerciais, a vasta maioria dos pesquisadores na América Latina simplesmente não teria acesso aos artigos destes periódicos. De que vale a visibilidade, se as pessoas não podem acessar os artigos?
Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que foram finalizados em 1° de agosto de 2015, é “Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável e promover a inovação”. Ambos Scielo e Redalyc são excelentes exemplos deste tipo de infraestrutura. Este tipo de rede de meta-publishers permite governança central das políticas, procedimentos e controles, porém, são intencionalmente descentralizados para apoiar o desenvolvimento de capacidades e infraestrutura locais, assegurando maior sustentabilidade e alinhamento com as políticas e prioridades locais. O que Beall defende, a saber, permitir que poderosos atores estrangeiros entrem e assumam o controle das capacidades locais, é exatamente o oposto do que trata o desenvolvimento sustentável.
Por essas razões, acreditamos que SciELO e Redalyc são, realmente, excelentes vizinhanças!
Assinado por,
Juan Pablo Alperin, Public Knowledge Project e Simon Fraser University, Canadá
Dominique Babini, CLACSO, Argentina
Leslie Chan, University of Toronto Scarborough, Canadá
Eve Gray, University of Cape Town, África do Sul
Jean-Claude Guédon, University of Montréal, Canadá
Heather Joseph, SPARC, EUA
Eloy Rodrigues, Universidade do Minho, Portugal
Kathleen Shearer, COAR, Canadá/Alemanha
Hebe Vessuri, Universidad Nacional Autónoma de México e Instituto Patagónico de Ciencias Sociales y Humanas, Argentina.
Nota
1. BEALL, J. Is SciELO a Publication Favela? Scholarly Open Access. 2015. Available from: http://scholarlyoa.com/2015/07/30/is-scielo-a-publication-favela/
Leia o post original, acesse:
http://sparc.arl.org/blog/open-access-latin-america-paragon-rest-world
Como citar este post [ISO 690/2010]:
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