Um dos principais motivos relatados por pesquisadores que não publicam em periódicos de acesso aberto (AA) se refere à sua percepção sobre a qualidade destas publicações. A ideia errônea que associa AA à ausência de avaliação por pares ou baixa qualidade de artigos permanece como o principal empecilho para escolher periódicos AA como a primeira opção de publicação.
Uma pesquisa realizada com 21.377 mil pesquisadores em todo o mundo indica que a aceitação das publicações em acesso aberto (AA) vem aumentando rapidamente entre os pesquisadores1. O Nature Publishing Group e o publisher associado Palgrave Macmillan realizam anualmente o Authors Insights Survey2, que tem por objetivo avaliar periodicamente a atitude e comportamento dos autores frente a publicação científica. A pesquisa deste ano entrevistou 18.354 (86%) autores nas áreas de ciência, tecnologia e medicina (CTM) e 3.023 (14%) autores nas áreas de ciências sociais e humanidades (CSH).
A pesquisa realizada em 2014 apontava que 40% dos pesquisadores que não publicaram em periódicos AA estavam basicamente preocupados com a qualidade das publicações AA. Em 2015, este número caiu para 27%, porém a qualidade persiste como principal preocupação entre os autores que optaram por periódicos não AA.
A opinião dos autores sobre vários temas relacionados à escolha do periódico, além do AA, também foi avaliada nessa pesquisa. Para os autores CTM, os fatores mais importantes na escolha do periódico são, em ordem decrescente, a reputação do periódico, a relevância deste para a disciplina, a qualidade da avaliação por pares e o Fator de Impacto. Entre os autores CSH, entretanto, figuram a relevância para a disciplina, a reputação, qualidade de avaliação por pares e o público-alvo do periódico.
De maneira geral, entre os fatores que mais contribuem para a percepção da reputação de um periódico na opinião dos autores estão o Fator de Impacto e a opinião da comunidade sobre a publicação, a consistência de qualidade e a qualidade da avaliação por pares.
Segundo os autores, o público-alvo das publicações, além dos pesquisadores da área, é composto por pesquisadores de outras áreas, membros da instituição e agências de fomento. Referente à política de publicação em AA dos financiadores, entretanto, apenas 30% dos autores atenderam adequadamente aos requerimentos, outros 30% atenderam parcialmente e 40% entenderam que o principal financiador não tinha uma política específica para AA, quando na verdade tinha.
Quando consultados sobre as principais razões para não publicar em periódicos de acesso aberto, 30% dos pesquisadores responderam estar preocupados sobre a percepção da qualidade da publicação AA, outros 29% afirmaram não desejar pagar taxas de publicação de artigo e 18% alegaram não dispor de fundos para pagar estas taxas.
De acordo com Dan Penny, Diretor de Inovação do NPG, “Percepções mudam com o tempo na medida em que mais publicações AA estabelecem reputações fortes, financiadores demandam AA e autores publicam seus melhores resultados em periódicos AA. O ano passado em particular assistiu a melhoria significativa de atitudes em prol do AA.”1
Neste sentido, o NPG tornou o Nature Communications seu mais importante periódico multidisciplinar em AA. Penny acrescenta “Efetivamente em 2015, 56% da pesquisa publicada pelo NPG é AA e adotamos a licença CC BY como default. Também estabelecemos fundos de financiamento para AA para viabilizar a publicação em AA. Entretanto, ainda é necessário mais educação, especialmente no tema de recursos disponíveis e mandatos de AA.”
O programa SciELO é pioneiro na adoção do acesso aberto e acaba de adotar preferencialmente para os periódicos que publica a licença CC BY (que permite distribuição, adaptação e modificação de conteúdos, mesmo para fins comerciais, desde que seja atribuído o crédito ao autor original). Esta licença, que é adotada pelos principais periódicos de acesso aberto, tem como vantagens maximizar a disseminação da informação, proporcionar maior grau de liberdade de reutilização dos conteúdos e permitir interoperabilidade com diferentes sistemas e serviços, incluindo aqueles comerciais.
Notas
1. DOUGLAS, J. Perceptions of open access publishing are changing for the better, a survey by Nature Publishing Group and Palgrave Macmillan finds. STM Publishing News. 2015. Available from: http://www.stm-publishing.com/perceptions-of-open-access-publishing-are-changing-for-the-better-a-survey-by-nature-publishing-group-and-palgrave-macmillan-finds/?utm_content=bufferfe92d&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer
2. (NPG), Nature Publishing Group (2015): Author Insights 2015 survey. figshare. [viewed August 27 2015]. DOI: http://dx..org/10.6084/m9.figshare.1425362
Referências
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Sobre Lilian Nassi-Calò
Lilian Nassi-Calò é química pelo Instituto de Química da USP e doutora em Bioquímica pela mesma instituição, a seguir foi bolsista da Fundação Alexander von Humboldt em Wuerzburg, Alemanha. Após concluir seus estudos, foi docente e pesquisadora no IQ-USP. Trabalhou na iniciativa privada como química industrial e atualmente é Coordenadora de Comunicação Científica na BIREME/OPAS/OMS e colaboradora do SciELO.
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Prezados,
gostaria de saber se existe no portal da Scielo algum canal de comunicação com os autores que publicam seus artigos no portal.
Desde já agradeço a atenção.
Att,
Leandro
Prezado Leandro, todos os artigos publicados nos periódicos indexados na coleção SciELO possuem um endereço de correspondência para comunicação com os autores dos trabalhos. Essa então é a forma de comunicação mais eficaz para a comunicação com os autores que o SciELO possui.
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