O modelo SciELO de publicação como política pública de acesso aberto

Por Abel L Packer1

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O SciELO (Scientific Electronic Library Online) foi concebido no Brasil em 1997 – há 22 anos – como uma biblioteca de acesso aberto, baseada na web, com um modelo de publicação que visa indexar, preservar, melhorar e dar alta visibilidade a uma coleção de periódicos avaliados por pares publicados independentemente por sociedades científicas, associações profissionais, universidades e outras instituições de pesquisa.

Atualmente, o modelo está sendo usado por 17 países que compõem a rede SciELO de coleções nacionais de periódicos, com mais de 1.200 periódicos publicando 50 mil novos artigos por ano, apenas 42% em inglês, cobrindo todos as áreas, mas principalmente ciências da saúde, ciências humanas, ciências sociais aplicadas e agricultura. O repositório da Rede SciELO acumulou mais de 700 mil artigos em acesso aberto, que atendem a uma média diária de 1.2 milhão de downloads, de acordo com as regras COUNTER, que excluem robôs.

A principal contribuição do SciELO é o reconhecimento da relevância de seus periódicos para o avanço da pesquisa em uma perspectiva global, pois eles comunicam pesquisas básicas e, principalmente, aplicadas, relacionadas a questões nacionais. Em um aspecto, o SciELO atende à academia e, em outro, informa políticas públicas, comunidades profissionais, currículos educacionais e questões públicas em geral. Juntamente com o Professor Rogerio Meneghini, que cofundou o SciELO comigo, enfatizamos a ideia de que fazer boa ciência significa também fazer bons periódicos. Também estou convencido de que o SciELO e coleções de periódicos similares operam de forma semelhante nos limites de uma dualidade ideal de ciência aberta e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs).

O modelo de publicação SciELO é orientado pelas características e fortalezas intrínsecas da web:

  1. A desintermediação de conteúdo, que nos levou a adotar o acesso aberto via dourada e as licenças CC-BY. Durante a Conferência SciELO 20 Anos em 2018, nos comprometemos a adotar as práticas abertas de comunicação científica nos próximos três a cinco anos, incluindo a operação de um servidor de preprints, suporte ao gerenciamento de dados de pesquisa e a abertura da avaliação por pares.
  2. O hipertexto e a interoperabilidade permitiram uma Rede SciELO totalmente descentralizada, que provou ser altamente eficiente na promoção de capacitação nacional, sustentabilidade, operação acessível, escala de conteúdo e visibilidade, e, particularmente, gerenciamento bem-sucedido de assimetrias. O SciELO é um produto de centenas de instituições e milhares de pessoas; autoridades de pesquisa, profissionais da informação, editores, pareceristas etc., para atender a milhões de usuários.
  3. Ser, na medida do possível, “independente das tiranias”, permitindo estruturar uma rede de adesão voluntária e sem acordos formais, garantindo a independência editorial dos periódicos e buscar avaliação e relevância da pesquisa além da simplicidade do ranking deus ex-machina do fator de impacto.

O SciELO possui, desde o início, um status de pesquisa e informação científica certificada, conferida pelas organizações por trás da Rede SciELO. Desejo apenas fazer referência a três delas, pioneiras do SciELO: a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), uma das mais importantes agências de fomento à pesquisa brasileiras, o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme) da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e a Comissão Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica do Chile (CONICYT), que adotou o modelo pela primeira vez, iniciando o desenvolvimento da Rede SciELO.

Em resumo, em uma dimensão, a publicação SciELO serve de estrutura para a implementação de políticas públicas nacionais para o desenvolvimento de periódicos avaliados por pares sob condições nacionais e, ao mesmo tempo, faz parte de uma rede internacional seguindo o estado da arte da comunicação científica. E, em outra, a Rede SciELO incorpora um programa de cooperação internacional para o progresso da pesquisa e sua comunicação aberta, com vistas a um fluxo global inclusivo de informação científica que considere a diversidade de áreas geográficas, áreas temáticas, culturas, multilinguismo e a resultante riqueza de assimetrias.

Nota

1. Este post compartilha a breve descrição do modelo SciELO de publicação em acesso aberto apresentada por Abel L Packer, Diretor do SciELO, no 14th Berlin Debate on Science and Science Policy que teve como tema Who Owns Science? Reshaping the Scientific Value Chain in the 21st Century.

Links externos

14th Berlin Debate on Science and Science Policy <https://berlinscienceweek.com/programme/14th-berlin-debate-on-science-and-science-policy/>

BIREME <https://www.paho.org/bireme/index.php>

CONICYT <https://www.conicyt.cl/>

FAPESP: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo <http://www.fapesp.br/>

SciELO 20 Anos <https://www.scielo20.org/>

SciELO.org <https://scielo.org/pt>

Sustainable Development Goals <https://www.un.org/sustainabledevelopment/>

Traduzido do original em inglês por Lilian Nassi-Calò.

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

PACKER, A.L. O modelo SciELO de publicação como política pública de acesso aberto [online]. SciELO em Perspectiva, 2019 [viewed ]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2019/12/18/o-modelo-scielo-de-publicacao-como-politica-publica-de-acesso-aberto/

 

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