Neste ano, o Programa SciELO está comemorando 20 Anos de operação regular promovendo o fortalecimento e desenvolvimento das capacidades e infraestruturas nacionais de comunicação de pesquisas por meio de periódicos de qualidade publicados nacionalmente. Essa incumbência o SciELO cumpre aliando as condições e prioridades de cada periódico e das respectivas áreas temáticas ao estado da arte internacional.
Ao longo dos 20 anos de operação, o SciELO sempre contou com o apoio da Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC) e vice-versa. A partir de suas identidades e funções, a ABEC e o SciELO operam em parceria no aperfeiçoamento dos periódicos do Brasil. Vale, lembrar que o encontro entre Abel Packer e Rogerio Meneghini que levou à fundação do SciELO se deu em uma reunião da ABEC em 1996.
Nas comemorações de 20 Anos, o SciELO está dando destaque especial à relevância dos periódicos de qualidade que são editados nacionalmente e sua inserção no fluxo global de informação científica, em particular no alinhamento com as boas práticas de comunicação da ciência aberta. São posicionamentos compartilhados com a ABEC.
1. Na sua visão, como a ABEC e o SciELO se complementam no aperfeiçoamento dos periódicos do Brasil e na promoção de políticas que reconheçam o papel chave que desempenham os periódicos do Brasil?
A ABEC e o SciELO têm papéis fundamentais na promoção de políticas que visem o avanço da ciência brasileira, no que tange a produção, divulgação e internacionalização, além de sempre trazer a discussão da ética e das boas práticas, objetivando fomentar todo o ecossistema editorial brasileiro, ou seja, do pesquisador/autor passando pelas prestadoras de serviços, até a sua publicação. “Devemos salientar que a publicação é o objetivo do pesquisador. E quando esta publicação acontece em um periódico relevante, é o mesmo que marcarmos um gol em um importante estádio num jogo decisivo sob o olhar do mundo todo”. Desta maneira a sinergia entre estas duas Instituições é um modelo a ser exportado, inclusive para outros países que formam a rede SciELO, pois a ABEC alterou seu estatuto e editores de outros países já participam efetivamente de nossa Associação.
2. A ABEC conta hoje com cerca de 700 sócios e um programa intenso de atividades, eventos e serviços de apoio aos periódicos e um relacionamento crescente com instituições internacionais de apoio à comunicação científica. Nenhum outro país da Rede SciELO conta com uma associação de editores científicos como a ABEC? Quais são as principais razões do sucesso da ABEC?
Atualmente, após mais de 30 anos desde sua fundação, a ABEC encontrou a sua maturidade. A administração responsável realizada pelas últimas gestões foi fundamental para que isto ocorresse. Investimos na aquisição de sede própria, na informatização de todos os sistemas de contato com o sócio, em ferramentas de divulgação pela internet e pelas mídias sociais, além de parceria com empresas para o fornecimento de serviços internacionais a preços atrativos aos nossos editores e pesquisadores. A presença virtual da ABEC tem sido fundamental para a atualização de nosso público e a realização de eventos anuais com a participação de palestrantes de outros países mostra-se acertada, pois erros e acertos são compartilhados. Além disso, nossa Associação tem um público multiprofissional. Este fato evita possíveis conflitos de interesse que muitas vezes vemos em outras Sociedades. Não há competição e sim um grande sistema de ensino e aprendizado que ocorre na família ABEC.
3. O SciELO está promovendo a adoção das boas práticas de comunicação científica da ciência aberta. Entre os principais avanços estão a convivência e interação dos periódicos com os servidores de preprints e com os servidores de dados de pesquisa. Como a ABEC está trabalhando no alinhamento dos periódicos com a ciência aberta?
A ABEC está alinhada com todas as mudanças que vêm acontecendo no mercado mundial da editoração científica. É claro que muitas delas são preocupantes pois o futuro é incerto, mas temos formado uma base sólida para enfrentar estes novos tempos. Um exemplo disso é a representação do Crossref no Brasil. Isto já possibilitou a adoção do “DOI number” para mais de 1.300 periódicos que se encontravam à margem da divulgação científica. A adoção de ferramentas antiplágio também faz parte deste pacote e tem ajudado divulgar as boas práticas com o intuito de melhorar a qualidade de nossos periódicos. A ciência aberta é uma tendência irreversível já que foi adotada por governos, editores e pesquisadores. Para os grandes publishers resta o desafio de alinhar os seus modelos de negócio a este paradigma. Este é um tema que sempre é discutido em nossos canais de comunicação e eventos.
4. Quais são os principais avanços e desafios que enfrentam os periódicos do Brasil no futuro próximo?
O desafio da modernização da editoração científica é mundial. Desde os primeiros periódicos publicados na segunda metade do século 17, seu modelo foi pouco alterado. Atualmente vivemos uma época de transição pois as ferramentas de informação e comunicação alteraram a maneira como o homem se comunica. E, por consequência, como comunicamos a ciência e as suas descobertas. Certamente, a maneira como vínhamos fazendo não será a maneira como iremos fazer nós próximos anos. Neste cenário, o SciELO tem um papel fundamental, pois acredito que tem uma função primordial na sustentação do sistema de pós-graduação brasileira. O impressionante número de downloads diários é o maior exemplo disso, já que os artigos ali publicados são usados para revisões, teses e dissertações, redação de projetos, etc. por nossos alunos. Infelizmente nem tudo será convertido em citações futuras mas é extremamente necessário para que este ecossistema aconteça. E certamente deve continuar como uma política pública de educação, pesquisa e desenvolvimento de nosso país. Por fim, é nítida a presença de alguns periódicos brasileiros no cenário internacional. Com seu impacto em ascensão, o recebimento de melhores artigos é uma realidade. A ABEC teve papel fundamental neste cenário nos últimos 10 anos ajudando na melhora destes periódicos e capacitação de seu staff. Este é um círculo virtuoso que poderia ser fomentado por agências como Capes e CNPq com políticas editoriais que vão muito além de investimento monetário.
Sobre Rui Seabra Ferreira Jr
Livre Docente em Animais Peçonhentos: Acidentes e Toxinas (FMB-UNESP 2016). Pesquisador Adjunto do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos CEVAP-UNESP. Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999), mestre e Doutor em Doenças Tropicais pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003 e 2005), Pós-doutorado em Imunoquímica no Instituto Butantan-FAPESP (2006-2008). Especialização em Animais Peçonhentos (FMB-UNESP 2000-2002); em Toxinologia (CEVAP 2000); e em Gestão de Educação a Distância (UFJF 2003-2004). Professor e Orientador do cursos de Pós-Graduação em Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) e de Pós-Graduação em Pesquisa Clínica (FMB/CEVAP). Membro do Conselho do Programa de Pós-graduação em Doenças Tropicais da FMB/UNESP. Membro do Conselho Deliberativo do CEVAP/UNESP. Membro do Conselho Universitário da UNESP. Membro da Câmara Central de Extensão Universitária da UNESP. Membro suplente da Câmara Central de Pesquisa da UNESP. É líder do Grupo de Pesquisa em Selante de Fibrina e Células Tronco (CNPq), membro da Diretoria (2008-2016) e Presidente (2016-2018) da Associação Brasileira de Editores Científicos; Membro da Sociedade Brasileira de Toxinologia; da International Society on Toxinology; da Associação Brasileira de Educação a Distância; e da Associação Brasileira de Editores Científicos. Consultor Ad-hoc da FAPESP. Membro do Comitê Julgador dos Periódicos Científicos Brasileiros do CNPq. Membro do Comitê Consultivo SciELO Brasil. Tem experiência nas áreas de Biologia, Medicina e Medicina Veterinária, com ênfase em Medicina Translacional, Toxinologia e Manejo e Acidentes com Animais Peçonhentos, além de Educação a Distância. Experiência internacional: visitas a Centros, Institutos e laboratórios universitários na Europa (2011) voltados a Bioprospecção, Drug development e Clinical Trials. Atualmente encontra-se como Coordenador Executivo do CEVAP-UNESP.
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