Aos participantes do evento comemorativo dos 15 anos de SciELO, começo pela indicação de um admirável passeio à Pinacoteca do Estado de São Paulo, localizada no Parque da Luz – ou Jardim da Luz –, n. 2 – Avenida Tiradentes.
Os visitantes terão a oportunidade de conhecer e apreciar um dos museus brasileiros mais antigos do País, inaugurado em 1905, e projetado por Ramos de Azevedo (1851-1928) e Domiciano Rossi (1865-1920). Um museu cuja história se relaciona à do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, criado no século XIX, por Leôncio de Carvalho.
O Parque da Luz ou o Jardim da Luz – como muitos paulistanos costumam tratá-lo –, contempla uma área aproximada de 113 mil m². O visitante, de início, pode conhecer o Parque que abriga, atualmente, cerca de 50 esculturas integradas ao acervo da Pinacoteca. Depois, além dessas esculturas ao ar livre, no prédio da Pinacoteca, o visitante tem a possibilidade de usufruir de exposições bem reveladoras do ponto de vista da memória artística e cultural, e que vão perdurar certamente até o mês de outubro próximo, como, por exemplo, a que trata: “Arte no Brasil: uma história na Pinacoteca São Paulo”.
“Arte no Brasil” oferece um conjunto de 500 obras distribuídas em onze salas, assim nomeadas: “A tradição colonial”, “Os artistas viajantes”, “A criação da Academia”, “A Academia no fim do século”, “O ensino acadêmico”, “Os gêneros de pintura”, “Realismo Burguês”, “Das coleções para o museu”, “Um imaginário paulista” e “O nacional na arte”. Tratando-se aí de um pouco da história da arte brasileira em pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, fotografias… e, ao mesmo tempo, de uma parcela considerável do que foi a formação da arte no País e a “criação de um ideário nacional nas artes”, do período colonial até meados da década de 1930.²
Outra exposição importante no mesmo endereço reforça o aspecto da formação da arte brasileira, especialmente com o enfoque em São Paulo, sob o título: “O pensionato artístico paulista na República Velha (1889-1930)”. O chamado “pensionato artístico” existiu “em uma primeira versão, instituída informalmente na década de 1890”, quando artistas podiam receber bolsa de estudo com o objetivo de instrução no exterior nos grandes centros de arte. E assim ficavam com o compromisso do envio dessas obras ao governo de São Paulo, o qual as encaminhava ao acervo do Museu Paulista (1895) e, em seguida, à Pinacoteca do Estado (a partir de 1905). A segunda fase do então “pensionato” se deu quando da criação de um plano mais formalizado de apoio a “bolsistas das áreas de artes plásticas, música e canto em importantes centros artísticos da Europa para aperfeiçoamento”.
É curioso saber que os requisitos para concorrer aos tais benefícios eram: “ser paulista, ter entre 12 e 25 anos de idade e possuir vocação artística.”² O que configurava, de maneira clara, uma preocupação particular com o planejamento de acervo das artes em São Paulo.
Hoje, a coleção da Pinacoteca conta com um total de 5 mil obras, grande parte dessas obras é referente a artistas brasileiros do século XIX. O prédio passou por muitas reformas, e a mais recente delas foi nos anos 90, na gestão de Emanoel Araújo (1940), cujo projeto de recuperação foi assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928).
* * *
Na continuidade dessa visitação no circuito das artes na Pinacoteca até outubro, entre outras exposições temporárias, menciono ainda a intitulada: “Dois Momentos”, do artista plástico Gilberto Salvador, nascido em São Paulo no ano de 1946.
Essa deve ser outra oportunidade de aproximação do visitante para conhecer a arte no Brasil, a partir dos anos 60 – e no caso desse artista – até os dias atuais, com 24 obras suas, entre pintura, objetos e instalações.
Vale dizer também que, afora o espaço da Pinacoteca, Gilberto Salvador, arquiteto de formação, teve instalada desde 1999, na Estação do Metrô Jardim São Paulo, no bairro de Santana, região Norte, a escultura de sua autoria denominada: “Voo de Xangô”3.
Aliás, um monumento oportuno que confere, de um lado, a sua atualidade, sobretudo no movimento paulistano e, de outro, as marcas expressas da cultura afro-brasileira na representação artística de um dos seus orixás1.
Notas
1 Xangô, Shango ou Sango é Orixá, de origem Yorubá. Para saber mais sobre estudos de Orixás no Brasil, ver, fundamentalmente: O candomblé na Bahia: rito nagô, de Roger Bastide. Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo, Companhia das Letras, 2001 (Edição revista e ampliada). Os candomblés de São Paulo, de Reginaldo Prandi, São Paulo, Hucitec e Edusp, 1991. E ainda: Notas sobre O culto dos Orixás e Voduns, de Pierre Verge, 2 edição, São Paulo, Edusp, 2000.
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Últimos comentários