O Programa SciELO comemora em 2013 seus 15 anos de operação regular. A Conferência SciELO 15 Anos e a Reunião da Rede SciELO, que acontecem em outubro próximo em São Paulo, servirão de marco e fórum para um balanço dos avanços realizados pelo Programa SciELO e os desafios enfrentados nas suas linhas prioritárias de ação.
O blog SciELO em Perspectiva alimentará com matérias este debate e a comemoração. Assim, na abertura do blog, entrevistamos Abel Packer, um dos idealizadores do SciELO e atual Coordenador do Programa SciELO/FAPESP e Assessor de Informação e Comunicação em Ciência da Fap-Unifesp. O assunto principal da entrevista foi saber de sua parte quais foram os fatores determinantes para o sucesso do SciELO, as expectativas em relação à Conferência SciELO 15 Anos e a sustentabilidade futura do Programa.
1. O Programa SciELO chega aos 15 anos com muito a comemorar. Qual a principal razão do sucesso do SciELO?
O SciELO desenvolveu-se e consolidou-se como parte integral da infraestrutura de pesquisa dos países onde opera, centrado no objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento dos periódicos de qualidade que comunicam uma parte importante da pesquisa nacional. Esta é a principal razão do seu sucesso. O SciELO nasceu e permanece como um Programa da FAPESP, implantado por meio de coleções nacionais que operam em rede. O CONICYT do Chile adotou o modelo SciELO logo após o seu lançamento, que ocorreu com dez periódicos da coleção brasileira, que participaram do projeto piloto e deu início à formação da Rede SciELO. As coleções SciELO são lideradas e mantidas por instituições ligadas às agências nacionais de fomento à pesquisa. Elas indexam e publicam periódicos nacionais e regionais de qualidade de todas as áreas do conhecimento com uma abordagem multilíngue. A indexação no SciELO complementa os índices internacionais e representa um selo de qualidade, de modo que os periódicos SciELO constituem referências de onde publicar para os pesquisadores, e fontes de informação para os sistemas nacionais de avaliação de programas de pesquisa e para os programas de apoio a periódicos.
2. Há outras razões para o sucesso do SciELO?
Sim e destaco duas delas. A segunda razão é o pioneirismo e a abrangência da proposta do SciELO para melhorar a qualidade e aumentar a visibilidade, uso e impacto dos periódicos. O SciELO integrou as funções de indexação com avaliação de desempenho, de publicação e disseminação online em acesso aberto, seguindo padrões internacionais. A interoperabilidade na Web com buscadores, índices bibliográficos, produtos e serviços de informação científica contribuíram para um notável crescimento do número de acessos e downloads. Essa abordagem funcional integrada solucionou um conjunto de problemas. Nos últimos anos, o SciELO vem ampliado suas funções de publicador e progressivamente seus serviços abrangem todos os processos editoriais.
Como terceira razão de sucesso, menciono a combinação da estratégia e do modelo operacional. A estratégia visa à democratização do acesso ao conhecimento científico baseado no acesso aberto e no fortalecimento e ampliação de infraestruturas e capacidades de comunicação científica. O modelo de desenvolvimento e de operação baseia-se nas racionalidades das bibliotecas e das redes. Essa combinação de estratégia e modelo operacional foi formulado pela BIREME no guia da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e suas redes associadas, como é o caso da Rede SciELO. A racionalidade da biblioteca orienta o desenvolvimento de coleções com controle de qualidade para melhor servir aos usuários. As coleções maximizam o desempenho dos periódicos e dos artigos. A racionalidade da rede, aplicada na cooperação entre instituições e pessoas, contribui para a racionalização do trabalho, de processos e recursos, assim como intercâmbio de experiências, que quando aplicada aos conteúdos, maximiza sua visibilidade e disponibilidade na web.
3. A Conferência SciELO 15 Anos tem um programa abrangente em comunicação científica. Qual é a expectativa quanto aos resultados e oportunidades de avanço do SciELO?
O programa trata de questões atuais e globais da comunicação científica e que são cruciais para o desenvolvimento do SciELO, como são o papel das políticas públicas, a avaliação da qualidade da pesquisa e dos periódicos, o estado do movimento de acesso aberto, as tendências e inovações em geral, e, em particular, na gestão editorial de periódicos e nos produtos e serviços de apoio à comunicação científica. A expectativa é a de que a análise, o debate e a contextualização dessas questões contribuam para atualizar nossa comunidade de publicadores, editores, pesquisadores e profissionais relacionados com indexação, editoração, publicação, disseminação e avaliação de periódicos. Esperamos uma participação numerosa e ativa dos editores e equipes editoriais dos periódicos SciELO.
No âmbito da Conferência será realizada a reunião dos coordenadores das coleções da Rede SciELO durante o dia 22 de outubro. Na agenda da reunião estão previstos análise, debate e aprovação de medidas para avançar nos quesitos: controle de qualidade das coleções e dos periódicos e a adoção de serviços comuns de editoração e publicação científica de modo a ampliar as funções de publicador do SciELO.
4. O SciELO foi pioneiro na adoção do acesso aberto pela chamada via dourada de publicação de periódicos em acesso aberto sem embargo. Nos países desenvolvidos o avanço do acesso aberto passa pelo equacionamento de modelos de negócios que mantenham o retorno financeiro dos publishers comerciais e das sociedades científicas. Como o SciELO projeta a sustentabilidade futura do seu modelo de publicação e acesso aberto?
Na América Latina a questão do acesso aberto está resolvida. A grande maioria dos periódicos de qualidade é de acesso aberto, indexados no SciELO e mantidos por diferentes fontes de recursos. Exceto por alguns periódicos que retrocederam para a modalidade comercial, a tendência é a consolidação e o aperfeiçoamento de modelos de negócios de acesso aberto de acordo com as condições de cada país. A estratégia do SciELO é minimizar os custos fixos de editoração e publicação por meio da provisão de serviços comuns aos periódicos. Caminhamos para ter preços mínimos para serviços comuns de acordo com o estado da arte internacional. No geral, o orçamento dos periódicos continuará sendo custeado por um mix de fontes de recursos, abrangendo as instituições responsáveis pelos periódicos, auxílios das agências de fomento, cobrança de taxas dos autores, etc. Entretanto, projetos especiais deverão financiar o desenvolvimento de periódicos de referência internacional.
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