A vez dos periódicos de qualidade do Brasil

Por Abel L. Packer e Rogerio Meneghini

Considerando o avanço do desempenho dos periódicos do Brasil e particularmente os que fazem parte do SciELO nos rankings de indicadores dos principais índices bibliométricos internacionais em 2016, publicamos o artigo “Os índices e seus limites”1 na seção de ciência do jornal O Globo em 25 de setembro de 2017.

Neste artigo sinalizamos que o referido avanço é uma expressão da relevância crescente dos periódicos do Brasil como fundamental para comunicar pesquisa do Brasil e de outros países de acordo com o estado da arte. É, assim, uma oportunidade para que políticas, programas e projetos de pesquisa alavanquem os periódicos do Brasil visando ampliar a qualificação da ciência brasileira em suas dimensões científica e social. Retomamos o tema neste post com dados que evidenciam este bom desempenho.

Destacamos, em primeiro lugar, os resultados obtidos no Fator de Impacto (FI) publicado pelo Journal Citation Reports (JCR)/ Web of Science (WoS). A Figura 1 resume o avanço do desempenho dos periódicos do Brasil, alcançando pela primeira vez, em 2016, mais de 25% (33) dos 121 periódicos com FI maior ou igual a um, dos quais cinco com FI de dois ou mais. Entre os 33 periódicos de maior impacto, 27 (81%) são da Coleção SciELO, e, portanto, de acesso aberto. As Memórias do Instituto Oswaldo Cruz com FI igual a 2.605 é o periódico com maior FI da América Latina em 2016. Nos anos anteriores o primeiro lugar era da Revista Mexicana de Astronomía y Astrofísica. As Memórias é, também, o periódico de maior impacto nas categorias de Parasitologia e Medicina Tropical dentre os periódicos dos países em desenvolvimento.

Figura 1. Evolução da distribuição do Fator de Impacto do JCR/WOS dos periódicos do Brasil entre os anos 2014 e 2016. São considerados os periódicos indexados no JCR/WoS em 2016.

Para comparar o desempenho dos periódicos do Brasil com os de outros países tomamos como base o indicador Source Normalized Impact per Paper (SNIP) do Scopus que mede o impacto de cada periódico no contexto da sua área temática identificada pelos periódicos que citam. Com essa abordagem, o SNIP permite a comparação de periódicos de diferentes áreas e, particularmente, entre periódicos de diferentes países, que refletem as respectivas distribuições predominantes de áreas temáticas. A Tabela 1 apresenta a distribuição dos indicadores SNIP e Scimago Journal Rank (SJR) para os primeiros 14 países no ranking de produção de artigos – Estados Unidos, China, Grã-Bretanha, Alemanha, Índia, Japão, França, Itália, Canadá, Austrália, Espanha, Rússia, Coréia do Sul e Brasil. No 14º lugar no ranking de artigos, o Brasil tem seus periódicos no 8º lugar pelo indicador SNIP, à frente do Japão, China, Itália, Espanha e França. Entretanto, em termos de periódicos de alto impacto, o Brasil ocupa os últimos lugares na distribuição do SNIP e do SJR, condição que é produto das políticas de avaliação das pesquisas que privilegiam a publicação em periódicos de maior impacto dos países desenvolvidos. O bom desempenho médio dos periódicos do Brasil entre os maiores produtores de ciência do mundo, sinaliza um potencial e capacidade para a promoção de periódicos de alto impacto. Esta condição favorável para novos e significativos avanços é produto do esforço das sociedades científicas e instituições de pesquisa em publicar periódicos de qualidade e de vários programas nacionais de apoio aos periódicos com destaque para o Programa SciELO da FAPESP que promove o profissionalismo e a internacionalização dos periódicos que indexa. Uma boa parte das comunidades de pesquisa do Brasil passou a produzir periódicos de qualidade de acordo com os padrões internacionais2.

Tabela 1. Distribuição comparativa dos indicadores SNIP e JCR de periódicos do Scopus publicados pelos 14 países com maior número de artigos

Políticas, programas e projetos de pesquisa deverão alavancar os periódicos do Brasil e permitirão ampliar o reconhecimento e a qualificação da ciência brasileira em suas dimensões científica e social. Desta forma, além do clássico ranqueamento bibliométrico dos periódicos que, nos últimos anos, influenciam pesquisadores, instituições acadêmicas, periódicos e agências de pesquisa, haverá uma melhoria no empreendimento de fazer pesquisa. No artigo, destacamos três forças ou movimentos que buscam minimizar os efeitos dos ranqueamentos dos periódicos e propomos uma quarta. A primeira vem das comunidades de pesquisadores e editores das Ciências Sociais e Humanidades que, há longa data, questionam a aplicabilidade em suas pesquisas das métricas baseadas exclusivamente em citações. O segundo é composto pelas várias declarações de diferentes grupos acadêmicos sobre a inconveniência de utilizar os rankings dos periódicos baseados em citações como indicador para ranquear todos as pesquisas neles publicadas. O argumento aqui é muito bem conhecido – mais da metade das citações recebidas pelos periódicos vêm de menos da metade dos artigos, ou seja, a maioria dos artigos é beneficiada pelo impacto de uma minoria que concentra as citações recebidas. O terceiro é o movimento do acesso aberto que preconiza a disponibilidade na Web das pesquisas sem barreira de acesso e que adquire mais força com o avanço da ciência aberta.

O quarto movimento que propomos requer a liderança das diferentes instâncias da pesquisa do Brasil em posicionar progressivamente os periódicos do Brasil em condições competitivas internacionalmente com os periódicos de alto impacto e como expressão da capacidade do país de fazer ciência em todas as dimensões.

Notas

1. PACKER, A. L. and MENEGHINI R. Os índices e seus limites [online]. O Globo. 2017 [viewed 8 October 2017]. Available from: https://oglobo.globo.com/opiniao/os-indices-seus-limites-21860855

2. PACKER, A. L. and MENEGHINI R. LEARNING TO COMMUNICATE SCIENCE IN DEVELOPING COUNTRIES. Interciencia [online]. 2007, vol. 32, no. 9, pp. 643-647, ISSN: 0378-1844 [viewed 8 October 2017]. Available from: http://www.scielo.org.ve/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0378-18442007000900014&lng=es&nrm=iso&tlng=en

Referências

PACKER, A. L. and MENEGHINI R. LEARNING TO COMMUNICATE SCIENCE IN DEVELOPING COUNTRIES. Interciencia [online]. 2007, vol. 32, no. 9, pp. 643-647, ISSN: 0378-1844 [viewed 8 October 2017]. Available from: http://www.scielo.org.ve/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0378-18442007000900014&lng=es&nrm=iso&tlng=en

PACKER, A. L. and MENEGHINI R. Os índices e seus limites [online]. O Globo. 2017 [viewed 8 October 2017]. Available from: https://oglobo.globo.com/opiniao/os-indices-seus-limites-21860855

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

PACKER, A. L. and MENEGHINI R. A vez dos periódicos de qualidade do Brasil [online]. SciELO em Perspectiva, 2017 [viewed ]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2017/11/08/a-vez-dos-periodicos-de-qualidade-do-brasil/

 

2 Thoughts on “A vez dos periódicos de qualidade do Brasil

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