A causa por boas práticas de pesquisa e dados abertos para resultados da pesquisa é cada vez mais inquestionável. O acesso aberto aos dados da pesquisa pode ajudar a acelerar o ritmo de progresso das descobertas e oferecer mais valor ao permitir a reutilização e reduzir a duplicação. Boas práticas de dados também tornam a pesquisa mais eficiente, eficaz e satisfatória para os pesquisadores. Como revelam os dados do Digital Science Open Data survey 20171, a comunidade de pesquisa reconhece o valor dos dados abertos, mas boas práticas e compartilhamento de dados ainda estão longe do status quo.
A Springer Nature e suas publicações têm defendido as boas práticas de dados há mais de uma década. Os esforços recentes concentraram-se no crescimento das opções de publicação de dados para gerar crédito e no fortalecimento e simplificação das nossas políticas de dados. Nosso foco futuro é no apoio e incentivos para permitir o compartilhamento e gerenciamento de dados, além dos dados abertos, construídos em colaboração com a comunidade de pesquisa.
A causa pelos dados
O argumento para melhores práticas de dados é reforçado pelas preocupações globais sobre a reprodutibilidade e a integridade das pesquisas, reduzindo as fraudes e melhorando os resultados dos pacientes. Até 50% das pesquisas pré-clínicas realizadas nos EUA, com um custo de US$ 56.4 bi por ano, não podem ser reproduzidas, estima um estudo de 20152. No mesmo ano, uma pesquisa da Nature3 concluiu que 70% dos mais de 1.500 respondentes tentou e não conseguiu replicar o trabalho dos outros. Mais chocante foi que 50% dos entrevistados não conseguiu reproduzir seu próprio trabalho. Há evidências de que a disponibilidade de dados aumenta a reprodutibilidade, conforme relatado em um artigo de revisão da Nature Genetics4 e outros artigos.
Há também um benefício de produtividade comprovado para boas práticas de dados. O arquivamento de dados pode dobrar a produção de publicação de projetos de pesquisa, de acordo com um estudo5 com 7.000 projetos nacionais de pesquisa financiados pela National Science Foundation e National Institutes of Health em ciências sociais. Foi demonstrado que o impacto de citação dos trabalhos de pesquisa também aumenta quando os dados são disponibilizados – até 50% em astrofísica e entre 9 – 35% em microarranjo da expressão gênica, astronomia, e paleo-oceanografia.
Os dados nesta pesquisa mostram que os pesquisadores ou estão usando dados de pesquisa de outros (49%), ou estão dispostos a fazê-lo (80%). No entanto, apenas 60% dos entrevistados tornam seus dados abertos “frequentemente” ou “às vezes”. As formas mais comuns de compartilhar dados ainda são informação suplementar em um artigo de periódico ou peer-to-peer. Talvez mais preocupante seja o armazenamento e o gerenciamento de dados. Apenas 20% dos entrevistados têm um plano de gerenciamento de dados, e as formas mais comuns de armazenar dados ativos e arquivados eram discos rígidos pessoais, discos rígidos externos e servidores institucionais.
Pesquisadores são pessoas inteligentes, responsáveis e motivadas. Eles também são limitados em termos de tempo e não querem necessariamente se tornar especialistas em dados ou licenças. Portanto, eles precisam de informação clara, políticas simples e orientação. Eles também entendem prioritariamente o avanço de sua área, sua própria pesquisa e a construção de suas carreiras. Então, eles precisam de ferramentas para facilitar o compartilhamento e o gerenciamento de dados, e crédito e incentivos para boas práticas de dados de pesquisa e dados disponíveis válidos.
Para efetuar mudanças, governo, financiadores, instituições, bibliotecas, publishers e os próprios pesquisadores têm um papel a desempenhar. Aqui estão as áreas nas quais esta pesquisa nos levou a pensar mais a respeito:
O papel do governo
É interessante ver o apoio aos mandatos nacionais de dados abertos nesta pesquisa (55% dos entrevistados). Muitos países agora tornaram abertos os dados de governo, fornecendo o melhor uso até o momento para o impacto econômico e social dos dados abertos. Quando se trata de dados de pesquisa, as abordagens e infraestruturas nacionais continuarão a depender de um compromisso similar a longo prazo e a ser equilibradas com o fomento da colaboração internacional, inclusive através de repositórios globais de dados específicos por disciplina.
O papel dos financiadores
Os resultados desta pesquisa sugerem que os mandatos de financiadores não são um motivador fundamental para os dados abertos. Isso contradiz os achados de outros estudos e é contrário ao que vemos como papel crucial dos financiadores em efetivar a mudança. O crescimento da publicação em acesso aberto foi conduzido, em parte, por financiadores que emitiram mandatos claros e específicos, disponibilizando fundos explicitamente e tornando o cumprimento obrigatório. A Springer Nature rastreia políticas de financiamentos sobre dados para ajudar a aconselhar autores sobre o cumprimento. Encorajadoramente, mais de 50 financiadores atualmente enviam ou encorajam o compartilhamento de dados, em comparação com apenas 28 em 2015. Até o momento, apenas alguns financiadores têm requisitos para planos de gerenciamento de dados ou declarações de disponibilidade de dados, ou disponibilizam explicitamente recursos para gerenciamento, armazenamento e curadoria de dados.
O papel da instituição
As instituições e as bibliotecas têm um papel fundamental a desempenhar no apoio aos pesquisadores: ajudá-los a entender e cumprir os requisitos dos financiadores, treiná-los e estabelecer soluções locais para gerenciamento de dados de pesquisa e dar suporte onde for necessário. A parceria com iniciativas e repositórios de dados, além de outros parceiros capazes, incluindo publishers, ajudará a assegurar a sustentabilidade e reduzir a duplicação de esforços.
O papel do publisher
Os publishers trabalham em estreita colaboração com pesquisadores em várias etapas do processo de pesquisa, particularmente quando estão escrevendo e compartilhando suas descobertas. Eis as cinco ações que os publishers podem adotar:
- Continuar a defender boas práticas de dados em diferentes comunidades.
- Incentivar a boa prática de dados de pesquisa e dados abertos através de políticas de periódicos e informação aos autores: veja, por exemplo, as políticas padronizadas de dados de pesquisa da Springer Nature6, o Research Data Support Helpdesk e a lista recomendada de repositórios.
- Fornecer mecanismos de crédito para um bom gerenciamento de dados e dados abertos: através da publicação de dados, relatórios de registros, citações de dados e vinculação, além de novos mecanismos, como os selos para práticas abertas.
- Oferecer soluções para ajudar os pesquisadores a compartilhar seus próprios dados e a descobrir e utilizar dados: por exemplo, nossos Serviços de Suporte de Dados piloto, que ajuda os pesquisadores a depositar e armazenar dados em parceria com o Figshare.
- Estabelecer parceria com a comunidade de pesquisa para criar soluções compartilhadas: por exemplo, o grupo de interesse global da Aliança de Dados de Pesquisa (Research Data Alliance, RDA) para melhorar padrões de políticas de dados de pesquisa, vinculação de dados e citações.
Vários outros publishers, incluindo PLOS, Wiley e Elsevier, também estão adotando algumas ou todas estas etapas.
Os esforços cooperativos de governos, financiadores, instituições de pesquisa, publishers e os próprios pesquisadores são necessários para fazer dos dados abertos generalizados uma realidade e tornar o gerenciamento de dados de pesquisa o novo padrão. A colaboração e as parcerias entre estes grupos farão com que isso aconteça mais rapidamente e de forma mais eficaz. A Springer Nature espera continuar a desempenhar a sua parte.
Nota da autora: Este artigo reflete as opiniões dos autores e não a posição do LSE Impact Blog, nem da London School of Economics. Por favor, reveja a nossa política de comentários7 se você tiver alguma dúvida ao postar um comentário.
Notas
1. State of Open Data survey 2017 [online]. Figshare. 2017 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://figshare.com/articles/State_of_Open_Data_survey_2017/5480710
2. FREEDMAN, L. P., COCKBURN, I. M. and SIMCOE, T. S. The Economics of Reproducibility in Preclinical Research. PLOS Biology [online]. 2015, vol. 13, no. 6, e1002165, ISSN: 1545-7885 [viewed 29 October 2017]. DOI: 10.1371/journal.pbio.1002165. Available from: http://journals.plos.org/plosbiology/article?id=10.1371/journal.pbio.1002165
3. BAKER, M. 1,500 scientists lift the lid on reproducibility [online]. Nature. 2016 [viewed 29 October 2017]. Available from: http://www.nature.com/news/1-500-scientists-lift-the-lid-on-reproducibility-1.19970
4. IOANNIDIS, J. P. A., et al. Repeatability of published microarray gene expression analyses. Nature Genetics [online]. 2009, vol. 41, pp. 149–155 [viewed 29 October 2017]. DOI: 10.1038/ng.295. Available from: https://www.nature.com/articles/ng.295
5. PIENTA, A. M., ALTER, G. C. and LYLE, J. A. The Enduring Value of Social Science Research: The Use and Reuse of Primary Research Data. In: The Organisation, Economics and Policy of Scientific Research, Torino, Italy, 2010 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://deepblue.lib.umich.edu/handle/2027.42/78307
6. Research data policies and services [online]. Springer Nature. 2017 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://www.springernature.com/gp/authors/research-data-policy
7. Comments Policy [online]. LSE Impact of Social Sciences blog. [viewed 11 September 2017]. Available from: http://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/comments-policy/
Referências
ASTELL, M., et al. State of Open Data survey 2017 [online]. Figshare. 2017 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://figshare.com/articles/State_of_Open_Data_survey_2017/5480710
BAKER, M. 1,500 scientists lift the lid on reproducibility [online]. Nature. 2016 [viewed 29 October 2017]. Available from: http://www.nature.com/news/1-500-scientists-lift-the-lid-on-reproducibility-1.19970
BRYANT, R., LAVOIE, B. and MALPAS C. The Realities of Research Data Management. Dublin: OCLC Research, 2017.
Comments Policy [online]. LSE Impact of Social Sciences blog. [viewed 29 October 2017]. Available from: http://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/comments-policy/
Data policy standardisation and implementation [online]. Research Data Alliance. 2017 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://www.rd-alliance.org/groups/data-policy-standardisation-and-implementation
Data Support Services (pilot) [online]. Springer Nature. 2017 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://www.springernature.com/gp/authors/research-data-policy/support-services/12327144
DORCH, S. B. F., DRACHEN, T. M. and ELLEGAARD, O. The data sharing advantage in astrophysics. arXiv.org [online]. 2015 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://arxiv.org/abs/1511.02512
FREEDMAN, L. P., COCKBURN, I. M. and SIMCOE, T. S. The Economics of Reproducibility in Preclinical Research. PLOS Biology [online]. 2015, vol. 13, no. 6, e1002165, ISSN: 1545-7885 [viewed 29 October 2017]. DOI: 10.1371/journal.pbio.1002165. Available from: http://journals.plos.org/plosbiology/article?id=10.1371/journal.pbio.1002165
HENNEKEN, E. A. and ACCOMAZZI, A. Linking to Data – Effect on Citation Rates in Astronomy. arXiv.org [online]. 2011 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://arxiv.org/abs/1111.3618
IOANNIDIS, J. P. A., et al. Repeatability of published microarray gene expression analyses. Nature Genetics [online]. 2009, vol. 41, pp. 149–155 [viewed 29 October 2017]. DOI: 10.1038/ng.295. Available from: https://www.nature.com/articles/ng.295
PIENTA, A. M., ALTER, G. C. and LYLE, J. A. The Enduring Value of Social Science Research: The Use and Reuse of Primary Research Data. In: The Organisation, Economics and Policy of Scientific Research, Torino, Italy, 2010 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://deepblue.lib.umich.edu/handle/2027.42/78307
PIWOWAR, H. A. and VISION, T. J. Data reuse and the open data citation advantage. PeerJ [online]. 2013, vol. 1, e175 [viewed 29 October 2017]. DOI: 10.7717/peerj.175. Available from: https://peerj.com/articles/175/
Research data policies and services [online]. Springer Nature. 2017 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://www.springernature.com/gp/authors/research-data-policy
SCHMIDT, B., GEMEINHOLZER, B. and TRELOAR, A. Open Data in Global Environmental Research: The Belmont Forum’s Open Data Survey. PLoS ONE [online]. 2016, vol. 11, no. 1, e0146695, ISSN: 1932-6203 [viewed 29 October 2017]. DOI: 10.1371/journal.pone.0146695. Available from: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0146695
SEARS, J. Data Sharing Effect on Article Citation Rate in Paleoceanography [online]. Figshare. 2014 [viewed 29 October 2017]. Available from: https://figshare.com/articles/Data_Sharing_Effect_%20on_Article_Citation_Rate_in_%20Paleoceanography/1222998/1
Artigo original em inglês
Traduzido do original em inglês por Lilian Nassi-Calò.
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Pingback: Colaboração e cooperação são fundamentais para tornar a ciência aberta uma realidade – Biblioteca FMUSP
Também concordo com seu ponto de vista. A colaboração e cooperação são importantes para a ciência.