Na última semana do mês de outubro de 2014 comemorou-se em todo o mundo a “Semana Internacional de Dados Abertos” e, por ocasião desta comemoração, celebrou-se na Escuela Técnica Superior de Ingeniería Informática de la Universitat Politécnica de Valencia, o “1st International Workshop on Open Research Data”.
O objetivo deste workshop foi apresentar o estado atual da abertura dos dados de pesquisa científica no mundo, as políticas existentes para a promoção deste modelo de compartilhar dados, e analisar princípios para a elaboração de diretrizes para promover a abertura ao conhecimento.
É conhecido de todos o movimento de Acesso Aberto (Open Access – OA) à literatura científica, pois é o modelo com que o SciELO opera desde seu início há 16 anos, ao qual aderiram mais de mil periódicos de todo o mundo. Cada vez mais os pesquisadores publicam seus trabalhos em periódicos de OA a também os incluem em repositórios em bibliotecas OA. Porém, não ocorre o mesmo com os dados de pesquisa que são a base destes trabalhos, devido ao fato que o paradigma de Dados Abertos (Open Data) não é tão conhecido e estendido, nem se compreende sua real importância. A consequência é que com dados pouco acessíveis não se estimula a inovação, nem se promove descobrimentos adicionais, ou se permite que os avanços científicos possam ser mais econômicos.
O movimento de Dados Abertos propõe:
- Estudar melhores formas de preservar e intercambiar os dados científicos resultado dos experimentos e pesquisas.
- Tornar possível a visibilidade da ciência gerada em todos os países e instituições.
- Maximizar o retorno do investimento em pesquisa ao fomentar o intercâmbio e a reutilização dos dados primários de forma generalizada e normalizada.
- Determinar políticas sistemáticas enfocadas a incrementar a competitividade da pesquisa baseada na gestão dos dados.
Entre as várias apresentações neste workshop que comentamos, destacam-se as seguintes quatro.
Herbert Grüttenmeier, do DataCite, apresentou os serviços integrados fornecidos por esta empresa1. Usando tecnologia dos DOIs, o serviço oferece um portal que vincula os catálogos de publicações científicas com provedores de conteúdo científico em toda classe de repositórios de dados de pesquisa (textos, software, imagens, simulação, objetos 3D, etc.). Os dados, ao serem acessíveis, podem ser usados para mineração de dados, reproduzidos e disseminados, livres de custos, aos usuários.
O DataCite opera desde 2009 e incorpora como afiliados muitos dos mais importantes centros de pesquisa do mundo. Para resumir este serviço em uma imagem que nos seja familiar, digamos, que da mesma maneira que a WoS oferece índices de citações, esta empresa oferece um serviço análogo denominado “Data Citation Index” onde se vinculam os periódicos científicos com os dados originais que sustentam os artigos publicados.
Fernanda Peset, da Universitat Politécnica de Valencia, explica a necessidade de fazer um Plan de Gestión de Datos2, que inclua organizar, armazenar e recuperar os dados, preservando os direitos de propriedade intelectual das partes envolvidas.
A Comunidade Europeia, em um projeto de 20143, apoia as iniciativas de preservação de dados para conduzir a uma economia de dados próspera. Um plano de gestão de dados deve incorporar a cooperação de várias áreas profissionais novas: Data Manager, Data Creator, Data Librarian, Data Scientist, o que faz surgir uma nova especialidade chamada “data curation” no ambiente digital. Este plano, além disso, para ser sustentável, deve incorporar recursos necessários, como normas, metadados e segurança. Finalmente, são mostrados como exemplos a alguns serviços já existentes na Internet como Figshare, Dryad, Dataverse, e Zenodo.
Alexandre López-Borrull da Universitat Oberta de Catalunya explica as considerações legais, éticas e sociais que incorpora a preservação e abertura dos dados4, uma discussão importante da qual surgem todavia muitas dúvidas ainda por resolver.
A primeira reflexão que faz López-Borrull é levar em conta que os dados podem ser grandes e abundantes, porém não são nem neutros nem inócuos e, em consequência, se forem mal utilizados podem produzir “dano informacional” (informational harm). Este impacto pode ser diferente se consideramos a pesquisa na área de Biomedicina, ou em Ciência e Tecnologia ou nas Ciências Sociais. Finalmente, a apresentação faz uma longa reflexão sobre a Propriedade Intelectual na Internet, as bases de dados, e considera também os temas da privacidade, o direito ao esquecimento e ao anonimato.
Na apresentação do Dr. Mario Pérez-Montoro5 da Universidade de Barcelona, é apresentado o estado da arte da Visualização dos Dados Abertos, por meio do uso de diagramas, gráficos, esquemas e mapas que ajudam na interpretação dos conteúdos mediante representações visuais.
Minha reflexão
Sobre o tema de Dados Abertos escrevemos em diversas oportunidades no SciELO em Perspectiva, e temos indicado que um dos critérios da indexação do SciELO Brasil é o posicionamento dos periódicos quanto à disponibilidade dos dados de pesquisa.
Entretanto, observando os avanços que estão ocorrendo nos últimos cinco anos nos países mais avançados em pesquisa e desenvolvimento, devemos reconhecer que na região onde o SciELO atua com mais presença não há políticas claras (e muito menos mandatórias) para arquivar os dados, os autores não tem consciência da mudança de paradigma, nem as Faculdades de biblioteconomia e informação estão preparando profissionais com perfis alinhados para esta importantíssima especialidade que está se abrindo no mercado.
Notas
1 GRÜTTENMEIER, H. DataCite – services and support for opening up research data. In: 1st International Workshop on Open Research Data, Valencia, 2014. 89 slides. Available from: http://mugi.webs.upv.es/wp-content/uploads/2014/10/DDataCite_Valencia.pdf
2 PESET, F. Datos de investigación. In: 1st International Workshop on Open Research Data, Valencia, 2014. 83 slides. Available from: http://mugi.webs.upv.es/wp-content/uploads/2014/10/13-Fpeset-Curso-RD.pdf
3 Comunicación de la Comisión al Parlamento Europeo, al Consejo, al Comité Económico y Social Europeo y al Comité de las Regiones: Hacia una economía de los datos próspera. Comisión Europea. 2014. Available from: http://eur-lex.europa.eu/legal-content/ES/TXT/PDF/?uri=COM:2014:442:FIN&rid=1
4 LÓPEZ-BORRULL, A. Consideraciones legales y éticas de los datos. In: 1st International Workshop on Open Research Data, Valencia, 2014. 55 slides. Available from: http://www.slideshare.net/alopezbo/consideraciones-legales-y-ticas-de-los-datos
5 PÉREZ-MONTORO, M. Visualización de datos abiertos. In: 1st International Workshop on Open Research Data, Valencia, 2014. 44 slides. Available from: http://mugi.webs.upv.es/wp-content/uploads/2014/10/Visualizaci%C3%B3n-datos-abiertos-UPV.pdf
Referências
1st International Workshop on Open Research Data. International Open Access Week. [viewed 23 November 2014] Available from: http://www.openaccessweek.org/events/1st-international-workshop-on-open-research-data
Balance y presentaciones del 1st International Workshop on Open Research Data. Universitat Politécnica de Valencia: Escuela Técnica Superior de Ingeniería Informática. [viewed 23 November 2014]. Available from: http://mugi.webs.upv.es/balance-y-presentaciones-del-1st-international-workshop-open-research-data/
Critérios, política e procedimentos para a admissão e a permanência de periódicos científicos na Coleção SciELO Brasil. SciELO. 2014. Available from: http://www.scielo.br/avaliacao/Criterios-SciELO-Brasil-20141003.pdf
Dados Abertos: informação líquida, democracia, inovação… os tempos estão mudando. SciELO em Perspectiva. [viewed 23 November 2014]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2013/11/18/dados-abertos-informacao-liquida-democracia-inovacao-os-tempos-estao-mudando/
Intercâmbio de dados de pesquisa continua baixo e aumenta lentamente. SciELO em Perspectiva. [viewed 23 November 2014]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2014/11/12/intercambio-de-dados-de-pesquisa-continua-baixo-e-aumenta-lentamente/
Movimento Open Data se consolida internacionalmente. SciELO em Perspectiva. [viewed 23 November 2014]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2014/07/14/movimento-open-data-se-consolida-internacionalmente/
Links externos
DATASEA – Datos Abiertos de Investigación – Open Research Data – <http://www.datasea.es/dt/>
Ferramentas para preservação de dados:
DRYAD – <http://datadryad.org>
Zenodo – <https://zenodo.org>
Figshare – <http://figshare.com>
Dataverse – <http://thedata.harvard.edu/dvn/>
Sobre Ernesto Spinak
Colaborador do SciELO, engenheiro de Sistemas e licenciado em Biblioteconomia, com diploma de Estudos Avançados pela Universitat Oberta de Catalunya e Mestre em “Sociedad de la Información” pela Universidad Oberta de Catalunya, Barcelona – Espanha. Atualmente tem uma empresa de consultoria que atende a 14 instituições do governo e universidades do Uruguai com projetos de informação.
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