Por Abel L. Packer
Os periódicos do Brasil vêm avançando notavelmente no aperfeiçoamento da gestão e operação profissionalizada dos processos de editoração, publicação, disseminação e marketing, sem perder o seu caráter acadêmico.
Considerando o conjunto dos periódicos SciELO, destacamos como indicadores ou características desses avanços a publicação atualizada sem atrasos dos novos números e a adoção da publicação avançada de artigos antes de compor os números, o uso crescente das redes sociais para a disseminação e marketing das pesquisas e a adoção de inovações nos processos de publicação.
Estes avanços alinham-se à promoção da profissionalização dos periódicos que o Programa SciELO vem priorizando juntamente com a internacionalização e a busca de sustentabilidade financeira estável como condições necessárias para o aumento continuado da credibilidade, visibilidade, presença, influência e impacto das pesquisas que os periódicos do Brasil publicam. Estes avanços contribuem decisivamente para o aumento da qualidade da comunicação científica do Brasil. E a sua prática rotineira passam a integrar os novos critérios de indexação da coleção SciELO Brasil tanto para a admissão de novos periódicos quanto para a permanência dos que estão indexados.
Neste contexto, está se formando progressivamente na comunidade de pesquisa um consenso que os periódicos do Brasil cumprem função importante ao comunicar cerca de 30% da pesquisa nacional indexada internacionalmente e que o seu aperfeiçoamento é essencial para melhorar o desempenho geral da pesquisa científica do Brasil. A profissionalização é parte deste aperfeiçoamento.
A profissionalização é entendida aqui como a produção dos periódicos de acordo com o estado da arte internacional e compreende um conjunto de características e condições de gestão e operação, informadas, que contribuem para minimizar o tempo e maximizar a transparência no processo de avaliação dos manuscritos, a edição dos textos que elimine erros, facilite a leitura e siga os padrões internacionais de comunicação nas diferentes áreas temáticas e nos diferentes idiomas, a formatação dos textos completos em XML como fonte de referência para a geração das versões em PDF, ePUB e HTML, a exploração dos mecanismos e serviços de interoperabilidade dos periódicos e artigos na Web e a disseminação das novas pesquisas nas redes sociais.
A profissionalização da gestão e operação não significa abandonar o caráter e a centralidade acadêmica que caracteriza a publicação dos periódicos do Brasil. Entretanto, esta condição embute desafios específicos. O principal deles se refere ao fato que a maioria dos editores-chefes e editores associados são pesquisadores ativos que dedicam uma parcela pequena do seu tempo à gestão dos periódicos. Esse tempo é valioso e recomenda-se que seja dedicado preferencialmente a duas funções principais: desenvolvimento da política editorial do periódico e à gestão da avaliação dos manuscritos. A execução plena destas duas funções, em particular a gestão da avaliação dos manuscritos, exige o concurso ativo de editores associados. Ou seja, a estrutura e composição do corpo de editores deve estar orientada à divisão de responsabilidades. O uso dos sistemas de gestão online de manuscritos viabiliza esta gestão compartilhada e descentralizada com editores associados nas diferentes cidades do Brasil e do exterior. O principal desafio da gestão é assegurar o entendimento e aplicação o mais uniforme possível das políticas editoriais e particularmente de avaliação de manuscritos.
O segundo desafio consiste na adoção eficiente das metodologias e tecnologias de produção dos textos, composição dos números e publicação online e, em alguns casos, também em papel. Este desafio pode ser enfrentado via três abordagens. A primeira é realizar toda a produção editorial com equipes e recursos próprios sejam do periódico propriamente dito ou compartilhados com outros periódicos da mesma instituição; a segunda é combinar equipes e recursos próprios com a contratação de serviços externos, em geral, tendo como critério o uso racional dos recursos financeiros; e, a terceira abordagem é contratar toda a produção de serviços externos. O Programa SciELO vem promovendo o estabelecimento de uma plataforma comum de serviços de editoração e publicação providos por companhias nacionais e internacionais que são certificadas pelo programa. Para cada tipo de serviço, a perspectiva é contar com pelo menos 3 companhias ao longo dos próximos dois anos. O processo de certificação tem como critério a obediência aos padrões adotados pelo SciELO para a indexação, publicação e interoperabilidade e, assim, mover progressivamente a produção dos periódicos de acordo com o estado da arte internacional. Os periódicos com produção própria deverão seguir os mesmos padrões.
Além da indexação e publicação online, o SciELO se encarrega de maximizar a interoperabilidade dos periódicos e artigos dotando-os de protocolos que facilitam o intercâmbio e acesso por índices, sistemas e serviços bibliográficos e pelos diferentes buscadores.
A profissionalização da disseminação e marketing tem como prioridade maximizar a presença dos periódicos e artigos nas redes sociais. A perspectiva é que os periódicos complementem suas listas de e-mails pesquisadores e usuários com espaços interativos no Twitter, Facebook, Mendeley, ResearchNet, Academia.edu, etc. O SciELO vem promovendo como solução coletiva o blog SciELO em Perspectiva cujas publicações na forma de press releases, entrevistas e análises são aportadas pelos periódicos.
Além do aperfeiçoamento e racionalização dos processos a profissionalização visa também melhorar a relação custo-qualidade.
Como citar este post [ISO 690/2010]:
A profissionalização dos periódicos e dos editores exige, já faz muito tempo, uma alteração importante na avaliação dos editores, em que os órgãos de fomento e de avaliação deveriam assumi-los de vez como elos fundamentais nas engrenagens da ciência nacional. Assim, as cobranças feitas sobre eles (editores) diminuiriam e, em vez de terem que publicar determinada quantidade anual de artigos, a própria atividade editorial deveria contar como publicações.