A Ciência Aberta ainda é tema incipiente nos periódicos de Administração

 João Paulo Moreira Silva, Professor do Mestrado em Administração da Unihorizontes, Belo Horizonte, Minas Gerais, MG e Edmundo Inácio Júnior, Professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Limeira, São Paulo, SP, Brasil

Imagem: Elaborada pelos autores.

Apesar de advogar por preceitos importantes e atuais, o movimento Ciência Aberta (CA) ainda está em fase incipiente dentre os periódicos da área da Administração. Como exemplo, as badges – insígnias designadas pelos periódicos aos artigos e autores que cumprem as exigências quanto a transparência de seus dados e outros métodos de pesquisa –, reconhecidamente uma ação eficaz para divulgação científica são utilizadas por apenas um periódico.

Muitos periódicos não têm desempenho muito melhor quanto aos demais critérios ressaltados pelo Guia para promoção da abertura, transparência e reprodutibilidade das pesquisas publicadas pelos periódicos SciELO,¹ baseada nas doretrizes TOP (Transparency and Openness Promotion), apenas incentivando ações pelos autores.

Por meio de um levantamento exploratório com vistas a criação de um resumo expandido apresentado na ABEC Meeting 2024, selecionamos os 17 periódicos da área da Administração e nos perguntamos: estão os principais periódicos da Administração adequados aos preceitos da CA? O intuito era de que o levantamento fosse objetivo e simples. Assim, foram investigadas as menções às diretrizes e preceitos da Ciência Aberta em cada página dos periódicos na plataforma SciELO e, quando de inconsistências ou ausências claras, também nos websites dos periódicos.

Como editores científicos atentos às discussões emergentes sobre editoração científica, a pergunta que norteou nosso levantamento surge de maneira natural: defendemos e apoiamos uma ciência mais transparente tanto em seu processo de criação de conhecimento quanto na avaliação e comunicação destes. Por outro lado, ao vestirmos o chapéu de pesquisadores brasileiros, compreendemos que muitas das mudanças recentes no processo editorial e também na forma de se fazer conhecimento científico demoram a chegar até nós, principalmente em um contexto de altos volumes de informação e surgimento constante de novas ferramentas tecnológicas.

Durante o levantamento e a análise dos dados, conseguimos notar alguns cenários interessantes. Primeiramente, ficou claro que as diretrizes presentes no guia de diretrizes TOP SciELO¹ possuem adequação limitada no campo das Ciências Sociais Aplicadas, como os itens 5, 6, 7 e 8 – (v) transparência do projeto e análise; (vi) pré-registro de estudos; (vii) pré-registro de plano de análise; (viii) replicação. Por outro lado, ao avaliar os itens 1 a 4, é possível notar que, em sua maioria, os periódicos apenas “incentivam” ou “não dizem nada”; o equivalente ao Nível 0 de avaliação. A Tabela 1 explicita o levantamento completo.

Tabela 1. Contagem de frequência dos níveis de aplicação dos critérios do guia de diretrizes TOP SciELO¹

Dessa forma, é possível perceber que a aplicação dos preceitos da CA nos periódicos da Administração ainda é incipiente e difusa. Argumenta-se então pela necessidade de os periódicos adotarem formas sistematizadas e claras em relação às diretrizes da CA, especialmente aquelas vinculadas ao guia de diretrizes TOP SciELO.¹ Como exemplo, tomemos o “incentivo” à transparência dos dados. Esse esforço por parte do periódico mantém o mesmo na categoria de Nível 0, não sendo considerado um esforço eficaz.

Atividades simples, mas objetivas, como a criação de uma seção específica para as diretrizes sobre CA em cada um dos periódicos que ainda não possuem, onde todas as informações sobre o tema estejam explicitadas – incluindo-se a orientação sobre cada uma das oito diretrizes presentes no guia de diretrizes TOP SciELO¹ (lembrando que a 1ª versão data de 2015, sendo publicada peo SciELO em 2018 e, em 2025 haverá uma atualização) e o nível que o periódico alcança por meio de suas atividades – tende a ser mais eficiente e angariar maiores resultados com o períodico.

Para ler o artigo, acesse

SILVA, J.P.M. and INÁCIO JÚNIOR, E. Mapeamento da Ciência Aberta em Revistas Brasileiras de Administração: Situação Atual e Perspectivas Futuras. In: Anais da ABEC Meeting 2024, São Paulo, 2024 [viewed 15 January 2024]. https://doi.org/10.21452/abecmeeting2024.240. Available from: https://ojs.abecbrasil.org.br/index.php/abec/article/view/240

Nota

1. SCIENTIFIC ELECTRONIC LIBRARY ONLINE. Guia para promoção da abertura, transparência e reprodutibilidade das pesquisas publicadas pelos periódicos SciELO [online]. SciELO.org. 2018 [viewed 15 January 2024].  Available from: https://wp.scielo.org/wp-content/uploads/Guia_TOP_en.pdf 

2. SILVA, J.P.M. and INÁCIO JÚNIOR, E. Mapeamento da Ciência Aberta em Revistas Brasileiras de Administração: Situação Atual e Perspectivas Futuras. In: Anais da ABEC Meeting 2024, São Paulo, 2024 [viewed 15 January 2024]. https://doi.org/10.21452/abecmeeting2024.240. Available from: https://ojs.abecbrasil.org.br/index.php/abec/article/view/240

Referências

MUNAFÒ, M.R., et al. A manifesto for reproducible science. Nature Human Behaviour [online]. 2017, vol. 1, no. 1, pp. 0021 [viewed 15 January 2024]. https://doi.org/10.1038/s41562-016-0021. Available from: https://www.nature.com/articles/s41562-016-0021

SCIENTIFIC ELECTRONIC LIBRARY ONLINE. Guia para promoção da abertura, transparência e reprodutibilidade das pesquisas publicadas pelos periódicos SciELO [online]. SciELO.org. 2018 [viewed 15 January 2024].  Available from: https://wp.scielo.org/wp-content/uploads/Guia_TOP_en.pdf 

UNESCO. UNESCO Recommendation on Open Science [online]. UNESCO. 2022 [viewed 15 January 2024]. https://doi.org/10.54677/MNMH8546. Available from: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000379949_eng

Links externos

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