Comunicação e avaliação por pares devem ser universalmente separados

Por Jan Velterop

Durante muito tempo – séculos, na verdade – a comunicação científica se deu através da publicação de resultados de pesquisas e análises em periódicos. Estes periódicos foram publicados, impressos e distribuídos em nome de sociedades científicas e, posteriormente, também em veículos comerciais, algumas vezes à base de troca, mas principalmente por meio de assinaturas comercializadas a centros de ensino e pesquisa e, em menor escala, a outros, como departamentos de pesquisa e desenvolvimento de grandes empresas de manufatura. Embora os artigos fossem às vezes avaliados pelos pares, apenas bem depois da Segunda Guerra Mundial a revisão por pares foi introduzida como um processo de rotina para praticamente todos os artigos submetidos a periódicos. Isso serviu a vários propósitos, não apenas para limitar a quantidade de artigos publicados, uma vez que imprimir e distribuir periódicos era caro, e um julgamento tinha de ser feito sobre o que realmente mereceria o emprego do escasso dinheiro, levando muitos periódicos a selecionar critérios efetivos de qualidade e relevância para seus potenciais leitores. O tempo decorrido entre a submissão inicial e a publicação geralmente era bastante longo, às vezes muito longo.

Com o advento da Internet, a necessidade de distribuição física e impressa, e os custos associados a isso, desapareceram. Isso poderia significar um completo processo de repensar a forma como a ciência era comunicada, mas as tradições se mantinham, e a maior parte da comunicação científica ainda ocorre nos antigos paradigmas, concebidos na era da impressão. A comunicação ainda ocorre por meio de periódicos, artigos sendo avaliados por pares antes da publicação (embora as considerações sobre espaço, importantes quando precisavam ser impressos e distribuídos fisicamente, tivessem desaparecido em grande parte). A avaliação por pares assumiu um significado próprio e é amplamente considerada muito importante. O sistema de revisão por pares confere credibilidade, e até mesmo prestígio, a artigos publicados formalmente, mas retém a rapidez da comunicação, que a tecnologia de comunicação eletrônica poderia melhorar enormemente. Em outras palavras, a comunicação dos resultados da pesquisa é retida – até mesmo “mantida refém” – pela necessidade efetiva de avaliação por pares pré-publicação.

A avaliação por pares pode ser um bom começo de um discurso apropriado entre cientistas, mas sua necessidade de garantia de qualidade e relevância para certo público-alvo é discutível – e discutida. Parece que a avaliação por pares é mais necessária para o avanço da carreira e gestão da reputação do que para o progresso científico propriamente dito.

A tecnologia permite que ambos os processos – comunicação e revisão por pares – sejam separados. Em algumas áreas, como grandes partes da física, isso já se tornou uma questão óbvia, com “preprints” sendo publicados primeiro (a comunicação) e a revisão por pares (um processo de avaliação) sendo realizada posteriormente. Em certas outras áreas, os preprints também estão chegando, embora ainda lentamente.

Minha opinião é que estes processos devem ser universalmente separados, no interesse da rapidez e eficiência do progresso científico.

 

Sobre Jan Velterop

Jan Velterop (1949), geofísico marinho, tornou-se editor científico em meados dos anos 1970. Ele iniciou sua carreira como editor na Elsevier em Amsterdã. Em 1990 tornou-se diretor de um jornal holandês, mas retornou à publicação científica internacional em 1993 na Academic Press em Londres, onde desenvolveu o primeiro acordo nacional que permitiu acesso eletrônico a todos os periódicos AP por todas as instituições de ensino superior do Reino Unido (o que mais tarde foi denominado BigDeal). Ele foi Diretor na Nature, mas logo se dedicou para ajudar a fazer decolar o BioMed Central. Ele participou da Iniciativa de Budapeste para o Acesso Aberto. Em 2005 foi para a Springer, baseado no Reino Unido como Diretor de Acesso Aberto. Em 2008 ele deixa a Springer para apoiar o desenvolvimento de abordagens semânticas para acelerar descobertas científicas. Velterop é um ativo defensor do acesso aberto em conformidade com a Iniciativa de Acesso Aberto de Budapeste (BOAI) e do uso de microatribuições, a referência das denominadas “nanopublicações”. Ele publicou vários artigos sobre ambos os temas.

 

Traduzido do original em inglês por Lilian Nassi-Calò.

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

VELTEROP, J. Comunicação e avaliação por pares devem ser universalmente separados [online]. SciELO em Perspectiva, 2018 [viewed ]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2018/05/25/comunicacao-e-avaliacao-por-pares-devem-ser-universalmente-separados/

 

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