Em termos de pesquisa e das publicações resultantes da mesma, não há uniformidade na quantidade de produção na região da América Latina. Argentina, Brasil e México são grandes geradores, seguidos de uma grande lacuna, e em seguida aparece Chile, Colômbia, Cuba, Venezuela e demais países. A maioria dos periódicos biomédicos impressos originários da região têm uma característica particular, que consiste no fato de que eles podem ser agrupados sob o título “Small Journals”. A tradução da frase em espanhol parece muito simples, no entanto, devido às suas características únicas, ainda não foram definidos critérios claros.
A Associação Mundial de Editores de Revistas Biomédicas (WAME¹, na sigla em Inglês) no final de 2006 decidiu criar um “Small Journals Task Force”, com objetivos muito específicos. Este grupo foi inspirado pelo fato de que existe uma diferença substancial entre os clássicos e prestigiosos periódicos biomédicos internacionais firmemente estabelecidos e um grande grupo de periódicos, “fracos”, com diferentes necessidades e perfis. Então se segue um dilema que consiste na definição de um “Small Journal“. Muitos elementos entraram em jogo: aspectos financeiros, circulação, distribuição, frequência e regularidade de publicação, pontualidade, idioma, qualidade do conteúdo, recursos humanos, processo de arbitragem, estrutura e conteúdo, visibilidade e presença em bibliotecas, índices e bases de dados, “Fator de Impacto”, etc. Infelizmente, a realidade da publicação científica latino-americana não está suficientemente representada na WAME. Não se sabe precisamente quantos periódicos biomédicos existem na região, mas há certamente várias centenas. Algumas dessas publicações têm um valor histórico valioso a ponto de que muitas têm mais de cinquenta anos de circulação e outras vem sendo publicadas há mais de um século de forma mais ou menos regular.
Se realizarmos uma busca na Internet ou em organizações conhecidas (Council of Science Editors², European Association of Science Editors³, International Committee of Medical Journal Editors⁴, World Association of Medical Editors¹), não encontraremos definição precisa deste grupo de publicações, apesar de que o termo é de uso corrente. A maioria destes periódicos em nossa região é fraca do ponto de vista gerencial e financeiro, mas seus editores realizam grandes esforços para chegar o mais próximo possível de reconhecidos critérios internacionais de qualidade e conteúdo científico, incluindo o processo de arbitragem. A ausência de regularidade é provavelmente o principal denominador comum.
Dentro deste cenário, nossos pesquisadores e autores se deparam com a decisão de onde submeter seus manuscritos para vê-los publicados e referenciados. Por um lado, deseja-se fortalecer e melhorar os periódicos regionais com artigos de qualidade, mas com pouca ou nenhuma perspectiva de exposição internacional, e por outro, existe a tentação de poder ver os resultados de seu trabalho em um periódico “clássico” com alta visibilidade e “Fator de Impacto”. A decisão para os autores não é fácil. Há muitos fatores envolvidos: a necessidade de reconhecimento acadêmico e por seus pares, oportunidades de progresso na carreira, ingresso em instituições prestigiosas, financiamento para pesquisas futuras ou respaldo financeiro para publicação de artigos em periódicos de acesso aberto, entre outros.
Nos últimos anos, tem acontecido alguns progressos no processo da internacionalização de periódicos latino-americanos com artigos – ou ao menos títulos e resumos – em inglês, assim como versões eletrônicas. Temos também bases de dados e bibliotecas virtuais ou eletrônicas, entre os quais devemos mencionar a prestigiosa BIREME⁵ e o SciELO⁶, que nos permitiram desenvolver nossas próprias ferramentas de cientometria.
Em uma revisão documentada⁷, Delgado-Troncoso faz uma análise completa dos periódicos em acesso abertos na América Latina e no Caribe, e conclui que este grupo de periódicos e sua inclusão no SciELO (Brasil, 1997) e RedALyC (México, 2002)⁸ levou a um significativo aumento na visibilidade aos respectivos autores, tanto dentro de seus próprios países e em toda a região, assim como em escala mundial, com visíveis taxas de crescimento exponenciais. Estes, e outros índices e bases de dados regionais surgiram da necessidade de conseguir uma espécie de janela na visão de mundo sobre a limitada representatividade obtida com outros recursos como o altamente exitoso PLoS (EUA, 2000)⁹. Enfatiza-se que a ausência de uma política clara do governo influência na falta ou na redução da produção científica em alguns países.
Resumindo, havia uma clara necessidade de melhorar a aderência aos principais critérios quantitativos internacionais e de superar os altos custos dos periódicos por assinatura, caracterizando elevado prestígio científico internacional. É uma conquista que requereu enorme esforço individual pouco reconhecido, em geral sem nenhuma compensação financeira ou reconhecimento acadêmico.
Um horizonte claro ainda parece distante. Muitos dos países na América Latina carecem de políticas bem definidas nesta área. Além disso, ainda existe segregação significativa entre os diversos países na região. Embora reuniões e conferências científicas sejam realizadas, a possibilidade de troca de informação em citações, referências, autores e revisores é ainda remota¹⁰.
Agora temos outra opção especificamente no campo da oncologia: ecancer¹¹. Este é um recurso eletrônico gratuito, arbitrado, de reconhecida qualidade científica, moderno e ágil, com diversos elementos midiáticos que lhe abrem as portas a nosso mundo científico e acadêmico, garantindo imediata e ampla visibilidade e intercâmbio não apenas nacional, mas regional e internacional. Vale ressaltar que o periódico aceita artigos em espanhol, português e inglês com possibilidades de ser traduzidos. ecancer é um valioso meio de conscientizar para as diversas características, sociais, culturais e econômicas científicas que caracterizam a América Latina. ecancer é um valioso meio de trazer a consciência global para as diversas características, sociais, culturais e econômicos científicas específicas que caracterizam a América Latina.
Notas
¹ World Association of Medical Editors (WAME) http://www.wame.org/wame-people. Consultado 12.11.2013.
² Council of Science Editors http://www.councilscienceeditors.org. Consultado 12.11.2013.
³ European Association of Science Editors http://www.ease.org.uk. Consultado 12.11.2013.
⁴ International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) http://www.icmje.org/roles_a.html . Consultado 10.12.2013.
⁵ BIREME Biblioteca Virtual em Saúde http://www.bireme.br. Consultado 12.11.2013.
⁶ SciELO Scientific Electronic Library Online http://www.scielo.org. Consultado 12.11.2013.
⁷ Delgado-Troncoso (2011) J. Papel del acceso abierto en el surgimiento y consolidación de las revistas arbitradas en América Latina y el Caribe. Educación Superior y Sociedad 16 (2) http://ess.iesalc.unesco.org.ve/index.php/ess/article/view/407/345 Consultado 12.11.2013
⁸ Redalyc Scientific Information System http://www.redalyc.org/ Consultado 12.11.2013
⁹ PLoS Public Library of Science http://www.plos.org/ Consultado 12.11.2013
¹⁰ Stegemann H (2007) Raising the visibility of ‘small journals. The Venezuelan Association of Biomedical Journal Editors (ASEREME) The Write Stuff 16 (4) 161-5. http://www.emwa.org/PastTWS/Stegemann.pdf Consultado 12.11.2013
¹¹ ecancer http://ecancer.org/index.php Consultado 12.11.2013
Artigo original publicado em: http://ecancer.org/journal/editorial/30-small-journals-indexes-and-ecancer-an-opportunity-for-latin-america.php
Sobre Herbert Stegemann
Herbert Stegemann (Caracas, 1940) formou-se em psiquiatra pela Universidade Central da Venezuela. Cursou pós-graduação no Instituto de Psiquiatria de Londres em 1968. Atualmente é psiquiatra no Hospital Vargas de Caracas, e co-fundador e ex-presidente da Associação Venezuelana de Editores de Revistas Biomédicas (ASEREME). Dr. Stegemann é membro do Royal College of Psychiatrists, do Committee of Publication Ethics, Council of Science Editors, e da European Association of Science Editors. Ele também é ex-presidente do “Small Journals Task Force” da World Association of Medical Editors.
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Como o eCancer representa uma oportunidade para a América Latina além daquela já oferecida por outros periódicos de acesso aberto?
· Periódicos em Acesso Aberto (AA) constituem uma melhora significativa na comunicação científica por tornar os artigos acessíveis aos seus interessados, porém a maioria dos periódicos AA internacionais mais importantes cobra dos autores dos artigos, mas não dos assinantes. O resultado foi um importante aumento da visibilidade de periódicos AA e de seus artigos.
· Muito provavelmente isso não é muito significativo para autores de países com larga tradição de pesquisa, mas a grande maioria dos países da América Latina (e seus periódicos) não pertence a este grupo. Alguns destes periódicos AA cobram quantias que seriam equivalentes a muitos meses de salário de um pesquisador.
· Além disso, o periódico ecancermedicalscience oferece algumas vantagens adicionais: é gratuito para autores de língua portuguesa e espanhola, oferece serviço gratuito de tradução de alta qualidade de espanhol e português ao inglês, executada por especialistas, serviços de mídia adicional livre de custo, tais como vídeo de entrevistas (em espanhol e inglês) com especialistas em conferencias ao redor do mundo, incluindo a América Latina, uma importante “penetração” em nossos países, os quais não possuem frequentemente acesso a estes serviços, ecancer para a América Latina é direcionado especialmente para os países da América Latina que tradicionalmente e de forma geral estiveram distante uns dos outros, de forma que ecancer agora oferece a possibilidade aos seus autores e pesquisadores de se conhecerem de forma mais pessoal, o que eventualmente poderá levar a testes internacionais multi-institucionais.
Estes fatos podem significar que haverá um importante encorajamento para a pesquisa em nossa região cuja maioria países mostrou pouco interesse até agora. O resultado será um significativo aumento na visibilidade de nossa atividade regional.
Por Herbert Stegemann