Periódicos acadêmicos com presença no Twitter são mais disseminados e recebem um maior número de citações [Publicado originalmente no blog LSE Impact of Social Sciences em Dezembro/2017]

Imagem: Bex Walton.

Por José Luis Ortega

No início deste ano, escrevi sobre como a participação de acadêmicos no Twitter pode influenciar a divulgação de seus artigos nessa rede social. Com base nos resultados da pesquisa anterior, expliquei que os artigos de pesquisa cujos autores têm uma conta do Twitter são mais twitados e, por extensão, esse fato favorece seu futuro impacto da citação. Esses resultados deixaram claro que a disseminação (medida pelos tweets) é de grande importância para o impacto científico (medido por citações) e, portanto, levantou à questão de até que ponto o impacto da citação é um reflexo da disseminação e não da qualidade da pesquisa.

Continuando nessa linha, pesquisas mais recentes exploram o papel dos periódicos no Twitter, analisando como seus artigos são twitados e citados. 4.176 artigos de pesquisa de 350 periódicos acadêmicos foram extraídos do provedor altmetria PlumX. Esses periódicos foram classificados em quatro categorias de acordo com seu grau de engajamento no Twitter:

  • Periódicos com sua própria conta no Twitter;
  • Periódicos sem conta própria do Twitter, mas cujo proprietário (associação profissional, sociedade científica etc.) possui uma conta no Twitter;
  • Periódicos cuja única presença no Twitter é por meio de conta de seu editor (Elsevier, Wiley, Springer);
  • Periódicos sem qualquer tipo de presença no Twitter.

Após uma transformação logarítmica e uma normalização no tempo das contas do Twitter, os tweets e citações médias recebidas por esses periódicos foram comparados estatisticamente.

Os resultados mostraram que artigos de periódicos com conta própria são 46% mais twitados, em média, do que artigos de periódicos sem uma conta do Twitter; 36% mais do que artigos de periódicos com uma conta de proprietário; e 25% mais do que artigos de periódicos com uma conta de editora. No entanto, ao analisar as citações, a variação mais significativa foi encontrada em relação aos artigos de contas de periódicos e de editoras, que recebem, em média, 34% e 32% mais citações do que artigos de periódicos sem conta do Twitter. Este resultado demonstra novamente a forte relação entre a disseminação e o impacto da citação, enfatizando que a difusão dos resultados da pesquisa no Twitter melhorará, a longo prazo, o número de citações recebidas pelos resultados acadêmicos.

Mas a mera presença de periódicos no Twitter não é suficiente para entender a maneira pela qual a disseminação nessa rede social favorece a “twitação” e a citação de artigos de pesquisa. Que tipo de ação é mais influente no sucesso de um artigo de pesquisa no Twitter? Uma análise de regressão foi realizada para estimar o efeito das métricas de redes sociais (por exemplo, número de tweets, seguidores e seguindo) de uma conta do Twitter sobre o impacto acadêmico (citações) e a divulgação (tweets) de seus artigos de pesquisa. Os resultados mostram que os seguidores são a única variável aceita no modelo (β=0,47), sugerindo que o número de seguidores tem um efeito positivo sobre o número de tweets que um artigo recebe. Particularmente, um aumento de 10% dos seguidores pode fazer com que as menções do Twitter cresçam 4,7%. Como podemos ver, o esforço necessário para aumentar o número de seguidores é demasiado (mais do que o dobro) e os benefícios não valem a pena. Além disso, o ajuste é fraco (R2=0,46) e, portanto, o efeito é apenas perceptível por menos da metade dos periódicos. Mesmo assim, esse resultado enfatiza o poder da rede de seguidores para a bem-sucedida disseminação de informação no Twitter.

Olhando para o número de citações, a análise de regressão encontrou relacionamentos ainda mais fracos. O número de seguidores por ano é novamente a única variável que influencia o número de citações que um artigo recebe. Mas agora o coeficiente é menor (β=0,283) e o ajuste é mais pobre do que no caso dos tweets (R2=0,18). Essas descobertas nos dizem que a atividade no Twitter tem menor influência no impacto da citação. O modelo sugere que um aumento de 10% nos seguidores produziria apenas 2,8% de crescimento nas citações. Esta percentagem é melhor (3,4%) se apenas os periódicos com conta própria do Twitter forem considerados. Este resultado fornece ainda mais evidências de que o esforço de manter uma grande rede de seguidores não é suficiente para melhorar o impacto de citação de seus artigos de pesquisa.

Concluindo, esses resultados deixam claro que a presença institucional de periódicos de pesquisa no Twitter é fundamental para a disseminação e visibilidade de seus resultados. Os periódicos devem considerar o Twitter como um instrumento importante para ampliar o público e rastrear o impacto de suas publicações nas redes sociais. Além disso, essas descobertas sugerem que a melhor estratégia para promover periódicos acadêmicos no Twitter é ter uma conta individual dedicada exclusivamente à divulgação do conteúdo do periódico. Editores e sociedades científicas devem se empenhar na criação de contas específicas do Twitter para seus periódicos. Isso teria o benefício de fornecer uma identificação clara da revista e rastrear, em detalhes, a atuação nas mídias sociais e o impacto de suas publicações.

Do ponto de vista de avaliação da pesquisa, esses resultados podem sugerir que a atividade do periódico no Twitter pode afetar o número de tweets e citações que seus artigos recebem. No entanto, esses resultados devem ser interpretados em termos de disseminação, em que a transmissão de resultados de pesquisa tem impacto sobre um público específico de pesquisadores que utilizam essa informação para estudos futuros. Quanto mais um artigo é espalhado por redes sociais, repositórios, blogs, sites de notícias etc., maior é o público atingido, aumentando a probabilidade de ser citado por colegas. Sendo assim, esses resultados devem ser usados pelos editores para informar os esforços para melhorar a descoberta dos periódicos e não visando avaliar a qualidade ou o impacto acadêmico. O número de menções no Twitter deve ser entendido como uma métrica de disseminação, não como um indicador de impacto acadêmico.

Esta publicação do blog baseia-se no artigo do autor, “ The presence of academic journals on Twitter and its relationship with dissemination (tweets) and research impact (citations)1, publicado no Aslib Journal of Information Management (DOI: 10.1108 / AJIM-02 -2017-0055).

Nota da autora: Este artigo reflete as opiniões dos autores e não a posição do LSE Impact Blog, nem da London School of Economics. Por favor, reveja a nossa política de comentários2 se você tiver alguma dúvida ao postar um comentário.

Notas

1. ORTEGA, J. S. The presence of academic journals on Twitter and its relationship with dissemination (tweets) and research impact (citations). Aslib Journal of Information Management [online]. 2017, vol. 69, no. 6, pp. 674-687, ISSN: 2050-3806 [viewed 4 December 2017]. DOI: 10.1108/AJIM-02-2017-0055. Available from: http://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/AJIM-02-2017-0055

2. Comments Policy [online]. LSE Impact of Social Sciences blog. [viewed 4 December 2017]. Available from: http://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/comments-policy/

Referências

Comments Policy [online]. LSE Impact of Social Sciences blog. [viewed 4 December 2017]. Available from: http://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/comments-policy/

ORTEGA, J. S. The presence of academic journals on Twitter and its relationship with dissemination (tweets) and research impact (citations). Aslib Journal of Information Management [online]. 2017, vol. 69, no. 6, pp. 674-687, ISSN: 2050-3806 [viewed 4 December 2017]. DOI: 10.1108/AJIM-02-2017-0055. Available from: http://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/AJIM-02-2017-0055

ORTEGA, J. S. To be or not to be on Twitter, and its relationship with the tweeting and citation of research papers. Scientometrics [online]. 2016, vol. 109, no. 2, pp. 1353–1364, ISSN: 1588-2861 [viewed 4 December 2017]. DOI: 10.1007/s11192-016-2113-0. Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s11192-016-2113-0

ORTEGA, J. S. Twitter can help with scientific dissemination but its influence on citation impact is less clear [online]. LSE Impact of Social Sciences blog, 2017 [viewed 4 December 2017]. Availble from: http://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/2017/01/11/twitter-can-help-with-scientific-dissemination-but-its-influence-on-citation-impact-is-less-clear/

Artigo original em inglês

http://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/2017/12/04/academic-journals-with-a-presence-on-twitter-are-more-widely-disseminated-and-receive-a-higher-number-of-citations/

 

Traduzido do original em inglês pela Equipe SciELO.

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

ORTEGA, J. S. Periódicos acadêmicos com presença no Twitter são mais disseminados e recebem um maior número de citações [Publicado originalmente no blog LSE Impact of Social Sciences em Dezembro/2017] [online]. SciELO em Perspectiva, 2017 [viewed ]. Available from: https://blog.scielo.org/blog/2017/12/14/periodicos-academicos-com-presenca-no-twitter-sao-mais-disseminados-e-recebem-um-maior-numero-de-citacoes/

 

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